Filthy é ao mesmo tempo um filme poderoso sobre o roubo da inocência e os traumas calados de uma jovem vítima de violação, mas também o dedo acusador apontado ao funcionamento de certas instituições psiquiátricas eslovacas. A jovem Tereza Nvotová alia assim um conseguido trabalho de realização ao seu currículo como atriz. Após um documentário sobre o proselitismo de certas instituições religiosas de inspiração americana, que a própria Nvotová conheceu na sua infância, a cineasta eslovaca aborda agora o acompanhamento perturbador do trauma da violação.
Além de demonstrar uma grande segurança nesta estreia na ficção em grande formato, aliado a um acerto na composição e escolha cromática, Filthy não parece recear sequer a opção por uma narrativa relativamente linear para contar uma história de dor calada. Lana (Dominika Moravkova) tem o seu primeiro contacto sexual pela violação do seu explicador de matemática, agravado depois pelo consequente aprofundamento do trauma já no interior de um hospital psiquiátrico onde sofre também com uma terrível terapia de grupo (interpretada em grande parte por pacientes internados) já depois de contemplar o suicídio.
Filthy é uma bela primeira obra de ficção. Como filme de geração e denúncia, assenta na direção segura de Nvotová determinada a contar uma história poderosa, conferindo aqui e ali alguns elementos chocantes que por certo irão embaraçar as instituições eslovacas. É claro que o filme vive também da presença luminosa e angelical de Dominika Moravkova cuja carreira deverá ganhar outro fôlego com esta prestação madura.