O Dia Mais Feliz na Vida de Olli Maki é um filme de boxe que não quer ser um filme de boxe, tal como Olli é um boxeur que prefere namorar a lutar. Ora é precisamente por aí que o filme de Juho Kuosmanen marca pontos, pois é a humilhação que exalta em detrimento da glória. Nesse sentido, O Dia Mais Feliz na Vida de Olli Maki é precisamente o oposto de Rocky ou O Touro Enraivecido. Ainda bem. É por isso mesmo irresistível.
https://www.youtube.com/watch?v=gkStqnnX1gw
Kuosmanen ganha kudos ao esboçar a arquitetura de um filme de boxe, deixando ainda assim contagia-lo pela irresistível simplicidade dos pequenos gestos. Na verdade, o título original finlandês é mesmo “homem sorridente”, algo que contraria a fisionomia algo hirta dos locais.
Depois de uma estreia com o drama social The Paint Sellers, vencedor do prémio Cinéfondation, em 2010, em Cannes, Kuosmanen serve-se dos factos verídicos do combate de Olli Maki (Jarkko Lahti), um pugilista do inicio dos anos 60 a quem é dada a possibilidade de lutar pelo título mundial, para conferir à história uma inesperada dimensão humana. De novo em Cannes, o vencedor do prémio Un Certain Regard descreve num granulado preto e branco e estilo próximo do documental o prazer da modéstia e a simplicidade.
É claro que todos queremos que ele vença o americano, até porque quase todos desconhecemos o veredicto final. Só que neste caso, o underdog fará história à sua maneira. Como seria o melhor dia da vida dele? Seria a vencer o combate com o americano campeão do mundo?
Talvez a conclusão esteja mesmo na cena final em que, o casal se cruza com impar de velhotes de mãos dadas. Pergunta ela: “Achas que vamos ser assim?”. “Velhos?”, replica ele. “Não, felizes”. O curioso é que é genérico diz-nos que são efectivamente Olli e Raija Maki.