Segunda-feira, Outubro 14, 2024
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9/11: Presos no elevador!

Será possível voltar ao trauma de 11 de setembro? Aparentemente sim. Mesmo depois das reportagens, revistas ao longos dos anos pelo youtube, e dos diversos filmes sobre esse dia que mudou o curso da História, eis que surge uma nova variante, desta feita baseada na peça de teatro Elevator, pelo dramaturgo Patrick Carson, sobre o que sucede a uma mão cheia de pessoas apanhadas num elevador de uma das Torres Gémeas.

Depois do trailer que libertou uma onda de ódio em redor do filme, considerando-o “ofensivo” e “desnecessário” chega a ver se vermos a versão final. Não que isso altere muito a premissa de um survival thriller que usa todos os ingredientes do género para causar emoção apesar do previsível desfecho. O que temos acaba por ficar bastante aquém dos inúmeros filmes sobre o ataque, como United 93, World Trade Center ou os diversos documentários, ficando-se por um drama de câmara que não trás absolutamente nada de novo.

O argentino radicado em Nova Iorque Martin Guigui centra no controverso projeto 9/11 Charlie Sheen, Gina Gershon, Luis Guzmán, Wood Harris, Olga Fonda (cujo apelido foi adotado por admiração por Henry e Jane Fonda) procurando afirmar um episódio de união e esperança no meio da catástrofe eminente.

Desde logo, espanta o facto de vermos Charlie Sheen como protagonista, ele que se empenhou tanto em difundir uma teoria da conspiração sobre os diversos acontecimentos do dia, culimando numa suposta “destruição controlada” das Torres Gémeas com um envolvimento mais ou menos direto da Casa Branca e de George Bush em motivar essa catástrofe para justificar a operação militar no Iraque que se sucedeu. Enfim, pela relevância desse envolvimento, parecer-nos-ia até mais calhado produzir uma mini-série sobre os acontecimentos desse dia, em que o próprio afirmou que tinham um buraco onde poderia passar um Boeing.

Mas não. O que temos é um Charlie Sheen, no papel de um magnata da finança, com o seu jet privado, depois de tratar do divórcio da mulher (Gina Gershon), insatisfeita com a vida em comum. Também apanhados no mesmo elevador preso na Torre Norte está um funcionário desse imóvel (Luis Guzmán), a braços com dificuldades financeiras, mas a pensar em duplicar o orçamento para os estudos da filha através do jogo, ainda um estafeta negro (Wood Harris) que acabara de dar os parabéns à filha, embora pouco simpatizante por latinos ou asiáticos.

Finalmente, uma jovem pinup russa impedida de levar a rutura da relação a um namorado bem mais velho e rico. Entretanto, contamos ainda com Whoopi Goldberg, a comandar, como pode, as operações via intercomunicador com os tripulantes desse elevador acidentado. Já lá fora, as respetivas famílias, com referência a Jaqueline Bisset, no papel da mãe de Gershon que vai gerindo em casa, e pela televisão, a preocupação dos filhotes. Enfim, os ingredientes suficientes para se cozinhar uma peça de teatro. Já em cinema, exigia-se mais tempero, já que a fatia de leão do filme é passada no interior do elevador e nas diversas tentativas de sair dali. Lá está, como teatro, percebe-se esta via; como cinema deixa-nos um pouco perdidos…

Não há muito mais a dizer, a não ser que 9/11 é pobrezinho como produto do género em que se insere, já que tem dificuldade em sair daquele espaço confinado e assumir-se mais como um filme. Para além de algumas, escassas, imagens de arquivo do domínio público, as opções do senhor Guigui são minimalistas. Sendo que o único momento de alguma emoção é quando o elevador se desprende dos cabos que o suportam e segue em queda livre, embora seja aparado por uma aterragem suavizada. É natural esperar algo de novo de um filme intitulado 9/11. Este não será o último. Mais surpreendente é perceber a confrangedora falta de meios e empenho em fazer algo que supere um telefilme de fraca qualidade.

Dezasseis anos depois da tragédia, somos levados de novo para as Torres Gémeas por forma a viver dentro de um elevador o drama humano dos seus ocupantes. Nada de novo na premissa, resultado confrangedor no resultado e na dramatização. Desnecessário o filme.

 

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