A Floresta das Almas Perdidas surpreende logo pelo estilo vibrante e a ousadia inconformada de não se vergar às regras do género de terror para este encontro de uma jovem adolescente e um homem maduro à procura do local ideal para o seu suicídio. Terá sido mais ou menos este o projeto de uma curta que o estreante José Pedro Lopes levou ao pitching fórum do FEST, o festival de novos realizadores, de Espinho, num processo entretanto transformado em longa com a introdução da segunda parte em que se supera a deambulação filosófica e as dores de crescimento adolescente para se centrar mais no género de terror.
Em todo o caso, a linha narrativa da primeira parte, que inevitavelmente nos remete para uma temática nipónica e, em particular, para floresta japonesa Aokigahara, encarada como o local ideal para o suicídio inevitavelmente, acaba por perder parte da sua frescura ao fazer-nos recordar o apenas sofrível filme de Gus Van Sant, The Sea of Trees, não estreado por cá mas que esteve em competição em Cannes 2015, em que Mathew McConaughey e Ken Watanabe, dois candidatos ao suicídio, ruminam sobre as respetivas sortes e o que eventualmente deixarão para trás.
Para além das motivações da jovem (Daniela Love) e do adulto (Jorge Mota) nunca chegarem a ser verdadeiramente credíveis, a sua evolução para um registo demasiado hip, em que se cita mesmo Elliot Smith, o tal poeta do desencanto, percebemos que esta demanda acaba por soar um pouco a falso e ser incipiente para cumprir o registo da longa metragem. Ainda assim, apesar dos senãos, A Floresta das Almas Perdidas não deixa de ser uma boa estreia em que José Pedro Lopes revela conhecimento da técnica e da produção num projeto que teve a sua adequada estreia no Fantasporto e que tem viajado em diversos festivais internacionais, sendo mesmo considerado pela revista Newsweek como um dos melhores filmes de terror do ano, ao lado, por exemplo, de Mother!, It, Get Out! ou Annabelle.
Curiosamente, não deixa de ser curioso como surge esta semana uma outra abordagem ao tema do suicídio, na reposição de O Sabor da Cereja, de Abbas Kiarostami, naturalmente com motivações diferentes e propostas de cinema bem distintas do filme português. Ainda assim, fica a curiosidade entre o estilo visual clean e a atitude cool de José Pedro Lopes, em contraste com a depuração e a poeira destinada a cobrir aquele que pretende encerrar a sua vida no clássico do falecido iraniano.