Nestes dias quem estiver para os lados de Seia e quiser participar no CineEco terá à disposição um belo menu de filmes que abordam as diferentes temáticas do cinema ambiental. Apesar dos problemas gerados pela Globalização serem evidentes, nem só só de dramas e tragédias ambientais é feita a programação do CineEco. Por exemplo, o festival começou logo com um tom aventureiro e festivo, com A Odisseia, sobre Jacques Costeau, já estreado em Portugal.
A visão quimérica do explorador e inovador Jacques Yves Costeau é aqui relatada desde o seu início visionário no final dos anos 40, numa convincente prestação de Lambert Wilson, quando deslumbrou os amigos e depois o mundo com o mundo aquático captado pelas suas câmaras, bem como dos seus filhos, em particular Philippe, interpretado por Pierre Ninney, que viria a falecer no rio Tejo, perto de Lisboa. É assim, de resto, que começa o filme de Jérôme Salle (e acaba), com a morte de Philippe, apesar do local da sua morte não chegar a ser referido.
Importante foi o percurso que seguiu, paralelo e alternativo ao pai, ele que era um apaixonado pela aviação. Apesar de tudo, Philippe acabaria por ter também uma valiosa colaboração com Jacques, já depois do seu período de afirmação pessoal. No fundo, a reação natural para quem não gostava de vier à sombra desta figura absorvente, quase mítica, um homem de ambição ilimitada que recuperou um barco de pesca, o mítico Calypso, e o levou aos quatro continentes descobrindo e partilhando os segredos do fundo do mar, com diversas aventuras femininas pelo meio, para desespero da sua mulher Simone, numa difícil mas conseguida presença de Audrey Tautou. Para a História ficará também um dos primeiros defensores dos oceanos e do equilíbrio ambiental, num filme correto, ainda que não politicamente correto, já que não deixa de abarcar todas as zonas cinzentas do mítico explorador marinho do barrete vermelho.
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Apesar deste iluminado e colorido aperitivo ambiental, o prato forte que sucedeu à abertura do 23º CineEco foi mesmo a exibição histórica de um dos mais célebres filmes mudos portugueses, Os Lobos, de 1923, do italiano Rino Lupo, com a particularidade do acompanhamento ao vivo pelo virtuoso Nicholas McNair. Um autor que merece uma palavra em particular, já que assinou mais de uma centena e meia de acompanhamentos musicais para filmes mudos, na Cinemateca, no Festival de Cannes, Cineclube de Faro, entre outros.
Na verdade, é difícil ficar indiferente a este documento ímpar do cinema luso, mesmo captado por um estrangeiro experiente, mas que haveria de ficar seduzido pela beleza de Portugal, onde realizaria diversos filmes para a produtora portuense Invicta Filme, chegando mesmo a dar aulas a um aspirante a ator, chamado Manoel de Oliveira. Da sua safra como realizador incluem-se Mulheres da Beira, também de 1923, bem como Fátima Milagrosa (1928) e José do Telhado (1929), o seu último filme.
Quase integralmente rodado em exteriores, Os Lobos é uma das pérolas do nosso cinema pré sonoro, captando o mar e a montanha, e respetivas sensibilidades, de uma forma muito realista em com interessantes movimentos de câmara . Vale muito como documento etnográfico, mas igualmente como liberdade cinematográfica e virtuosismo.
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