Quarta-feira, Outubro 9, 2024
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Suburbicon: Matt Damon com sangue na guelra em comédia negra de George Clooney

George Clooney esconde-se atrás da câmara nesta comédia muito negra assinada pelos manos Coen e escrita logo a seguir ao seu filme de estreia Blood Simple, em 1984. Apesar da marca dos argumentistas jamais se dissipar, aqui com a revisão de Grant Heslov e do próprio Clooney, e acabar por submeter a direção à sua história, valerá a pena dizer que o trabalho do realizador também não fica subjugado. Até porque se revela eficaz na condução desta versão tergiversada de Pagos a Dobrar, de Billy Wilder, com laivos de Fargo. Já se vê, temos um seguro e alguém que quer beneficiar. Sim, claro, there will be blood…

Mas antes situemo-nos. Em Suburbicon, claro, anos 50, numa espécie de aldeia gaulesa branca num país já rodeada por demasiados negros. Eles prometem a diversidade de Nova Iorque, Ohio e Mississippi, se bem que em cartazes de famílias pálidas. E quando uma família afroamericana, baseado no primeiro agregado negro que ousou instalar-se numa comunidade semelhante, em Levittown, se atreve a partilhar desse mesmo sonho – uma variante do mundo liliputiano inventado por Alexander Payne em Downsizing – cai-lhe em cima uma histeria da supremacia branca que acompanha todo o filme como uma irritação de pele.

No caso de Gardner Lodge (Matt Damon, sempre ele), um homem metido consigo mas com negócios por fora. E que envolve parte da família. Por exemplo, Julianne Morre, em versão dupla, uma esposa, outra cunhada, que servirá para apimentar a narrativa. No entanto, esta história rocambolesca acabará por ser vista do ponto de vista de uma criança, ilustrada de resto com planos em que várias vezes os adultos aparecem cortados, fora de campo.

Quando tudo passa a correr mal, é claro que o sangue também começa a correr, e é quando o filme se torna mais grotesco que também mais o apreciamos. E há tantas personagens para ajudar.

De George Clooney como realizador temos de dizer que é difícil traçar-lhe um estilo ou um tipo de registo, se bem que a tendência para o cinismo político em filmes de época comece a assentar-lhe bem. Ainda longe de Boa Noite, e Boa Sorte, mas bem melhor que o desastrado The Monuments Men – Os Caçadores de Tesouros.

(crítica publicada originalmente em setembro, durante o Festival de Veneza, onde o filem teve a sua estreia mundial)

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