Thiery Frémaux e Pierre Lescure deram a conhecer os primeiros 17 filmes em competição, sublinharam as novas regras e esclareceram algumas ausências. Para já, sem portugueses. Em breve, teremos os filmes que ainda faltam anunciar, bem como os eleitos na Semana da Crítica e Quinzena dos Realizadores.
O anúncio dos filmes da Seleção Oficial em competição no Festival de Cannes é sempre um momento para ser digerido devagar. Como vem sendo hábito, na lista apresentada pelo Presidente Pierre Lescure e o delegado geral Thierry Frémaux esperam-se sempre os habitués, apesar do festival que entra numa nova década, nesta 71ª edição, mostra também a sua procura por novos cineastas – algo que se comprova tanto na Seleção Oficial como na secção paralela Un Certain Regard – mas também a vontade de imprimir regras novas, como as que proíbem as selfies na red carpet, mas também as sessões de imprensa antes da sessão oficial e também os filmes das plataformas de streaming, como a Netflix, na competição. Enfim, são os novos tempos na Croisette, que seguramente irão fazer ainda correr alguma pinta digital.
Este será também o primeiro ano, desde há muito, sem Harvey Weinstein, e também o foco de movimentos de afirmação feminina. Isto apesar da Seleção Oficial contar apenas com três realizadoras, ainda assim com filme empenhados.
Ataquemos então o prato a Seleção Oficial. Não os mais de 1900 filmes visionados pelo comité de seleção, mas, primeiro, aos que sabíamos: teremos o iraniano Asghar Farhadi a abrir a competição, com… um filme em espanhol – Todos lo Saben, interpretado pelo casal de estrelas Penélope Cruz e Javier Bardem. Sabíamos também que a estreia mundial do novo spin off de Star Wars, Han Solo: Uma História de Star Wars, com estreia marcada para o nosso país, para o dia 24 de maio, quatro dias depois de terminar o festival de Cannes. E as tais três cineastas na competição: são elas a francesa Eva Husson, com Les Filles du Soleil, sobre um batalhão de mulheres curdas; a libanesa Nadine Labaki, com Capharnaum e ainda a italiana Alice Rohrwacher, com Lazzaro Felice.
Entre os anúncios mais relevantes, há a destacar a presença de Jean-Luc Godard. Ele que o ano passado se escondeu de Agnès Varda e se refugiou na personagem interpretada por Louis Garrel, em Le Redoutable, de Michael Hazanavicious (entretanto baptizado de Godard, mon Amour). E que agora se apresenta em competição, aos 87 anos, com Le Livre D’Image, para além de estar omnipresente no cartaz oficial, com a imagem do seu filme de 1965 Pedro, o Louco. Veremos se Godard aparece. Naturalmente, o mesmo desejamos de Jafar Panahi, que nos trás Three Faces, três anos depois de ganhar o Urso de Ouro em Berlim, com Taxi de Jafar Panahi. E que virá a Cannes se as autoridades iranianas o deixarem viajar, interrompendo assim a sua prisão domiciliária. Um outro nome incontornável é Spike Lee, que promete muito com Blakkklansman, um filme com produção assegurada por Jordan Peele, sobre um polícia afro-americano que se infiltra na rede do Ku Klux Klan e tornar-se na voz mais sonante do grupo.
E o que temos mais? Temos Stéphane Brizé que volta à Croisette com Em Guerre, depois de A Lei do Mercado, ao passo que o outro francês amigo de Cannes, Christophe Honoré, mostrará Plaire Aimer et Courir Vite. Já o polaco Pawel Pawlikowski regressa com Cold War, em registo a preto em branco (como em Ida, vencedor do óscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2015), o italiano Matteo Garrone, apresenta Dogmane e o russo Kirill Serebrennikov, outro cineasta que permanece em prisão domiciliária, acusado de fraude, apresenta Summer, sobre o ambiente rock and roll nos anos de Brejnev e Stalin. Há ainda um filme egípcio, Yomeddine, de A.B. Shawky. E, por fim, mas não em último, uma boa fornada do cinema do extremo oriente. Desde logo, o novo de Jia Zhang-Ke (Ash is the Purest White), Hirozako Kore-Eda (Shoplifters), Lee Chang-Dong (Buh-Ninh) ou ainda Ryusuke Hamauchi (Netemo Sametemo (Asako I & II)).
As ausências desejadas
Para além destas presenças, especula-se ainda das ausências ou meras possibilidades de ainda chegarem à programação. É o caso do polémico e eternamente adiado filme de Terry Gillian, The Man Who Killed Don Quixote, como se sabe, parcialmente rodado em Portugal, mas ainda dependente da solução do diferendo com o anterior produtor Paulo Branco. Outra expectativa gira em redor da eventual presença de Lars von Trier, aparentemente já não ‘persona non grata’ depois das declarações polémicas em 2011. Thierry Frémaux pede calma, pois “pode ainda ser contemplada” a presença com a sua incursão no horror em The House That Jack Built, com Uma Thurman, Matt Dillon e Riley Keough, ela que também participa em Under the Silver Lake, de David Robert Mitchell, igualmente em competição.
Lamenta-se ainda a eventual ausência do documentário inacabado de Orson Welles, The Other Side of the Wind, completado por Peter Bogdanovich, alegadamente pelos diferendos de distribuição em sala a que a Netflix se opõe, por não concordar que passem apenas fora de competição. O capítulo das omissões incluir ainda o novo de Xavier Dolan (The Life and Death of John F. Donovan, com Natalie Portman)e de Jacques Audiard (The Sisters Brothers, com Joaquim Phoenix e Jake Gyllanhaal), ambos meninos queridos de Cannes e ambos mais virados para o mercado americano. Eventualmente, por decisões estratégicas e porventura de optarem por uma maior proximidade aos Óscares. Virar-se-ão para Veneza?
Uma outra polémica que ainda não assentou diz respeito à abolição das projeções de imprensa antes da sessão de gala, por forma a evitar uma reação da imprensa antes dos produtores (e compradores) verem o filme. A solução passa por sessões em simultâneo, suprimindo a primeira sessão matinal, para desespero dos jornais diários que ficarão muito limitados com o fecho da edição. Seguramente, um facto que irá ser bastante falado durante o festival. Venha ele.