Quinta-feira, Dezembro 5, 2024
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Ocean’s 8: Agora chegou a ver delas darem a golpada!

Em plena onda #MeToo Hollywood reivindica a versão feminina de Ocean’s Eleven, o sensacional clássico heist movie com que Steven Soderbergh nos brindou em 2001 e que já era um remake de Rat Pack, um original menos conseguido. Lá está, o sinal dos tempos.

De resto, pouco antes deste grupo de mulheres determinadas a dar o golpe, Debbie Ocean, com a figura e a voz de Sandra Bullock, profere um discurso moralizador defendendo que “Não estão a fazer isto por mim, mas por vocês. É que lá fora existe uma menina de oito anos que sonha ser criminosa. É por ela que o fazemos”. Assim passa para o exterior, em particular para o auditório feminino, esta premissa consciente de afirmação de género e libertação, esta mensagem para se desvincular de um certo domínio masculino em que às damas lhe sobra apenas os papéis coadjuvantes, inevitavelmente com a componente sexy à altura. Yep, é de woman empowerment que falamos sim senhor, com a particularidade de tentar fazer com oito mulheres aquilo que se fizera no passado com onze homens. Mas será isso o suficiente para fazer um bom filme? Bom, isso é outra conversa.

Já se sabe que do lado dos gabinetes de produção não se hesita se for possível agarrar no desfibrilhador e dar vida a projetos sonantes sem ter de inventar nada de novo, desde que isso possa trazer o tal dólar acrescido. Nada de mal vem ao mundo por isso, tal como a trilogia de Soderbergh que acabou por se tornar numa referência no género, em grande parte impulsionada por um elenco irrecusável (e irresistível). Isto apesar das sequelas nunca terem atingido o brilhantismo e diversão do primeiro.

Ocean’s 8 ganha à partida talvez pela entrega da encomenda a um cineasta e autor de um mega-sucesso gerador de franchise. Razão pela qual o nome de Gary Ross e o seu trabalho em Hunger Games não tenha torcido o nariz aos produtores. Até porque lhe coube também a incumbência de assinar e adaptar o guião. Começa assim por introduzir uma relação umbilical, com Sandra Bullock, no papel de Debbie Ocean, a maninha de um Danny Ocean (George Clooney), agora a sair da prisão em liberdade condicional, tal como sucedera com o maninho em 2001.

Só que assim que sente o pé em liberdade, começa por juntar o seu team. O motivo? Porque não o roubo de um colar Cartier orçado em nada menos que 150 milhões de dólares? Pois como Marilyn Monroe garantiu no passado diamonds are the girl’s best friend. Só que a joia pretendida vive nas profundezas de um cofre. Mas nada que seja impossível.

Com a amiga de longa data Lou (Cate Blanchett), Debbie irá juntar uma pandilha para concretizar o roubo quando a portadora da jóia, a estrela de cinema Daphne Kluher (Anne Hathaway) envergar a dita durante a gala anual no Museu Metropolitan, em Nova Iorque, daí a suas semanas. Entretanto, recorrem ainda ao outsourcing da estilista Rose Weil (Helena Bonham Carter), da joalheira Amita (Mindy Kaling), da hacker Nine-ball (Rhianna), da larápia Constance (Awkwafina), e ainda de Tammy (Sarah Paulson). Para além disso haverá ainda uma surpresa no final, mas que nos abstemos de revelar.

É claro que agora, em vez dos néon dos casinos de Las Vegas teremos o glamour digno de uma cerimónia de Óscares, ou não fosse ela dominada por vencedoras de Óscares e Globos de Ouro, mas também Emmys e mesmo Grammys, graças à inclusão de Rhianna… Enfim, tudo em prol do espetáculo e do mediatismo.

E aqui chegamos ao imbróglio do filme. Ou seja, apesar do começo em grande estilo em que vamos receber o melhor deste naipe de estrelas, o filme vai perdendo fôlego, e acaba mesmo por se virar contra si próprio porque choca contra a inevitabilidade da sua existência.

É claro que Sandra Bullock mantém a coerência de uma digna sucessora de Danny Ocean, de certo modo a alimentar alguma química com Cate Blanchett, embora seja mesmo Anne Hathaway quem acabe por ‘roubar’ o filme com a inteligência de parodiar a sua própria condição de estrela de cinema. Já Helena Bonham Carter fica-se pela excentricidade própria do papel que lhe coube, ao passo que Rhianna limita-se a ser quem é – provavelmente ninguém lhe pediu para ser outra coisa.

Há ainda espaço para mais woman power, sobretudo durante a tal cena da gala, em que vão desfilar Anna Wintour, Jennifer Lawrence, mas também Serena Williams, Kim Kardashian, Katie Hoklmes, etc, etc. OK, temos também a presença masculina defendida por James Corden, como o investigador de seguros designado para a investigação depois do assalto, de resto responsável por muitas gargalhadas.

O que nos fica é um filme refém dos seus antepassados desinteressado em correr riscos e, consequentemente, sem espaço de transcendência para que as personagens. Mas, se calhar, ninguém iria à espera de algo diferente. Ou ia? Mas lá que é divertido…

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