Sábado, Outubro 5, 2024
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Punta Sacra vence na experiência democrática online do festival Visions du Réel

Na edição experimental online do Visions du Réel, a vitória coube ao documentário italiano Punta Sacra. Infelizmente, Amor Fati, de Cláudia Varejão ficou fora dos prémios.

O festival de cinema documental suíço Visions du Réel despediu-se no domingo passado sábado com a escolha dos eleitos pelos diversos júris que acompanharam online as diferentes seções ao longo desta nova experiência de seguir um festival que teve de assumir um percurso alternativo. Na categoria de longas metragens internacionais, o italiano Punta Sacra foi o preferido fixando o desejo de pertença da comunidade de Idroscalo que habitam uma pequena língua de terra de construção ilegal, integrada num dos bairros de Ostia, perto de Roma, entre a foz do rio Tibre e o Mediterrâneo. Prémios ainda para a evocação das tradições dos povos árcticos refletidas pela dupla finlandesa Markku e Johannes Lehmuskallio, pai e filha, em Anerca Breath of Life, galardoado com o Prémio do Júri pela inovação; já na secção Burning Lights, venceram o chileno El Otro e a média-metragem francesa Pyrale; na competição suíça distinguir-se-ia Sapelo, de Nick Brandestini. Infelizmente, a poesia de reencontro a dois de Cláudia Varejão, em Amor Fati, ficou de fora do palmarés. Tal como o angustiante Purple Sea, da síria Amel Alzacout, sobre a experiência traumática que viveu como náufrago.

Mas vamos a Punta Sacra. Depois de ter sobrevivido à remoção de várias habitações, em 2010, a comunidade de Punta Sacra mostra aquilo que é – e quem lá vive – neste vibrante pedaço de realidade bem merecedor desta distinção. A câmara testemunha e vai unindo as conversas e as motivações de raparigas pré-adolescentes com as de mulheres mais maduras. Em particular a sabedoria de Franca, que não perdeu ainda o espírito comunitário e ativista, mesmo quando algumas amigas desdenham da sua atitude comunista ou da influência que Pasolini deixou na sua geração. Ela que sublinha ainda que as mulheres são as que rimam com “ação” e não apenas com “intenção”, no fundo, a verdadeira ‘mola real’ daquela comunidade. Também nos acercamos dos homens, seja o sacerdote local gerador de um pensamento mais sereno ou do poeta ‘rapper’ latino americano que já herdou a cultura italiana, mas que não esquece a herança da Brigada Vitor Jara. Punta Sacra é assim uma fascinante cápsula do tempo captada pela cineasta Francesca Mazzoleni.

Dos filmes premiados que tivemos oportunidade de ver, ficou-nos igualmente na memória o olhar do velho chileno à procura de um outro, do seu próprio reflexo, cujas ricas parecem ter sido sulcadas pelas ficções de Herman Melville (Moby Dick), Ernest Hemingway (O Velho e o Mar) e Dostoievsky (Crime e Castigo).

Palmarés Visions du Réel 2020 

Competição Internacional Longas Metragens

Punta Sacra, de Francesca Mazzoleni (Itália) – Longa metragem

Anerca, Breath of Life, de Johannes Lehmuskallo, Markku Kehmuskallio (Finlândia) – Prémio do Júri Longa metragem mais inovadora

The Silhouetes, de Afsaneh Salari (Irão, Filipinas) – Menção especial

El Father Plays Himself, de Mo Scarpelli (Venezuela, Reino Unido, Itália, Estados Unidos – Menção especial

Off the Road, de Jose Permar (México, EUA) – Prémio do júri inter-religioso

 

Competição Internacional Burning Lights

The Other One, de Francisco Bermejo (Chile) – Longa ou curta metragem

Pyrale, de Roxanne Gaucherand (França) – Longa ou média metragem mais inovadora

The Desqualified, de Hamza Ouni (Tunísia, França, Qatar)

 

Competição nacional

Sapelo, de Nick Brandestini (Suíça) – Melhor longa ou média metragem

Cows on the Roof, de Aldo Gugolz (Suíça) – Longa metragem mais inovadora

Privé, de Raphael Holzer (Suíça) – Menção especial

 

Competição Internacional Média e Curtas Metragens 

Jungle, de Louise Mootz (França) – Melhor média metragem

Na Ordinary Country, de Tomasz Wolski (Polónia) – Média metragem mais inovadora

Trouble Sleep, de Alain Kassanda (Nigéria, França) – Menção especial

My Own Landscapes, de Antoine Chapon (França) – Melhor curta metragem

Bella, de Thelyia Petraki (Grécia) – Menção especial

On Hold, de Laura Rantanen (Finlândia) – Curta metragem mais inovadora

 

Prémio do Público

Mirror, Mirror on The Wall, de Sascha Schoberl (China, Alemanha) – Melhor Longa Metragem

 

Opening Scenes

The Golden Buttons, de Alex Evstigeev (Rússia) – Prémio IDFA Talento

Sans Vous, Sans Moi, de Adèle Shaykhulova (França, Rússia) – Prémio Tenk

Mat et les Gravitantes, de Pauline Pénichout (França) – Prémio da Fundação Cultural Meta

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