O movimento L.A. Rebellion foi gerado pelo caldeirão escaldante do final da década de 60, nos E.U.A., embora agravado pela contestação da guerra no Vietname, o trauma da morte de Martin Luther King, além do agravamento de um racismo endémico. Circunstâncias que empoderaram um conjunto de personagens a usar o cinema como arma de expressão artística e contestação social.
Por isso, talvez quando se fale em cinema independente americano, muitos não ligarão ao L.A. Rebellion, embora este seja um dos movimentos de contestação mais relevantes. Justamente, o LEFFEST’22 dedica-lhe uma devida homenagem, apresentando, de acordo com o comunicado oficial, projeções inéditas de 14 realizadores associados, num total de 18 obras marcantes desta corrente cinematográfica.
Além da oportunidade rara de poder contar com alguns dos principais protagonistas, convidados do festival, como Charles Burnett, Billy Woodberry, Ben Caldwell, Julie Dash e Haile Gerima, participando em debates após a exibição dos respectivos filmes. Além disso, o LEFFEST promove uma exposição apresentada pelo realizador Ben Caldwell.
Sobre o movimento L.A. Rebelou (em comunicado do LEFFEST):
“Impulsionado por um conjunto de factores políticos e sociais característicos dos anos 60, surgiu, na Universidade da Califórnia, um movimento que desafiou a hegemonia branca no cinema e que se opôs de forma marcante à imagem preconceituosa do cinema mainstream sobre aquela comunidade. Este movimento, que por vezes também aparece identificado como Los Angeles School of Black Filmmakers, deu origem a filmes interpretados por atores semi-profissionais, com orçamentos modestos, e que retratavam a vida negra nos Estados Unidos.”
“Charles Burnett, numa entrevista ao site awardsradar.com, explicou a importância deste movimento: «Nunca pensei em mim como uma pessoa rebelde, ou fazendo parte de algum tipo de rebelião, mesmo que isso fosse o que estava a acontecer. Só muitos anos depois, quando pessoas como Clyde Taylor [crítico cinematográfico que apelidou o movimento de “L.A. Rebellion”] nos identificou, é que percebi que era isso que estávamos a fazer. Na altura, uma das coisas que mais me incomodava era a perpetuação de estereótipos e das narrativas sobre o nosso trabalho por pessoas fora da nossa comunidade, que nos ligavam a filmes como Birth of a Nation (1915), de D. W. Griffith, um filme incrivelmente ofensivo. Nós lutávamos contra isso, e os filmes que fazíamos tentavam restaurar a verdade, o que era real.»”
Pode seguir aqui a programação da secção L.A.Rebellion.
Sessão 1
10 de Novembro, 19h, Cinema Medeia Nimas
Rain (Nyesha) (1978), de Melvonna Ballenger
Compensation (1999), de Zeinabu irene Davis
Sessão 2
11 de Novembro, 16h15, Cinema Medeia Nimas
As Above, So Bellow (1973), de Larry Clark
Shopping Bag Spirits and Freeway Fetishes: Reflections on Ritual Space (1981), de Barbara McCullough
Sessão 3
12 de Novembro, 16h, Cinema Medeia Nimas
Ujamii Uhuru Schule Community Freedom School (1974), de Don Amis
Killer of Sheep (1978), de Charles Burnett
Com a presença do realizador Charles Burnett
Sessão 4
14 de Novembro, 18h30, Cinema Medeia Nimas
Daydream Therapy (1977), de Bernard Nicolas
Bless Their Little Hearts (1983), de Billy Woodberry
Com a presença dos realizadores Ben Caldwell, Charles Burnett, Julie Dash e Billy Woodberry
Sessão 5
15 de Novembro, 15h30, Cinema Medeia Nimas
Brick by Brick (1982), de Shirikiana Nina
Ashes and Ambers (1982), de Haile Gerima
Sessão 6
17 de Novembro, 19h, Centro Cultural Olga Cadaval
The horse (1973), de Charles Burnett
To Sleep with Anger (1990), de Charles Burnett
Com a presença do realizador Charles Burnett
Sessão 7
17 de Novembro, 22h, Centro Cultural Olga Cadaval
Grey Area (1981), de Monona WaliSessão 8
18 de Novembro, 15h, Cinema Medeia Nimas
Four Women (1957), de Julie Dash
Daughters of the Dust (1991), de Julie Dash
Com a presença da realizadora Julie DashSessão 9
19 de Novembro, 17h30, Centro Cultural Olga Cadaval
I & I: Na African Allegory (1979), de Ben Caldwell
Sankofa (1993), de Halle Gerima