Sábado, Abril 27, 2024
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Tiago Bartolomeu Costa defende  “a problematização do mar como identidade coletiva nacional”

Declarações do coordenador do projeto FILMar, durante a apresentação do filme 'As Ilhas Encantadas', de Carlos de Vilardebó, em Lyon.

À saída da sessão de As Ilhas Encantadas, de Carlos Vilardebó, exibido no Festival Lumière, em Lyon, recolhemos depoimentos de Tiago Bartolomeu Costa, coordenador do projeto FILMar, sobre o enquadramento deste filme, realizado em 1965, dentro do contexto atual do programa.

De que forma acha que o tempo e esta nova digitalização do filme ‘As Ilhas Encantadas’ permitem reenquadrar a visão e uma opinião mais esclarecida sobre este filme mal-amado? 

O restauro de ‘As Ilhas Encantadas’ é a possibilidade de trazermos um bocadinho de luz a uma leitura absolutamente plana e superficial de uma história de cinema, com estrelas, coproduções e grandes meios. Algo que vai um pouco ao arrepio da história oficial que estava na altura pelas mesmas pessoas. 

Recorde-se que esta foi uma produção de António da Cunha Telles que acabou vetada pela crítica portuguesa da altura…

Algo que vai um pouco ao arrepio da história oficial que estava na altura a ser feira por muitas das mesmas pessoas que trabalharam neste filme.

O contexto do cenário das Madeira parece fundamental para a atmosfera particular deste filme.

É muito interessante ver este filme, de 1965, rodado na Madeira, precisamente no mesmo local onde Jorge Brum do Canto realiza A Canção da Terra (1938), um filme sobre a aridez do território, a impossibilidade emocional e o isolamento. Embora ambos feitos a partir de condições dominadas por uma camada política e social. Neste sentido, trata-se de um projeto que permite olhar de forma diacrónica um aspecto evidente, ou seja, a relação do cinema português com o mar. Algo que permite compreender ligações políticas, sociais, históricas, mas também as relações das comunidades com a paisagem e com o território. 

Amália Rodrigues numa cena de ‘As Ilhas Encantadas’.

Diria que este é um filme que integra plenamente dentro do projeto FILMar?

Depois de termos digitalizado um conjunto de documentários (encomendas oficiais e institucionais, em que apresentam a ilha como paraíso turístico potencia económico), é interessante chegar a este filme e verificar como a mesma paisagem nos pode dar diferentes narrativas que são absolutamente contemporâneas e que tendemos a classificar como pertencendo a famílias diferentes. No entanto, pertencem de facto a esta ideia de que existe um eixo estruturante, que é a problematização do mar na identidade coletiva nacional, mas sobretudo como os diferentes cineastas foram conscientes ao encarar o mar como um problema, mas também um potencial metafórico.

Este será um filme que iremos poder ver em salas de cinema?

Nos vamos integrá-lo dentro daquilo que é a retrospetiva FILMar. A partir de Fevereiro vamos apresentar o filme em diferentes pontos do país. Os vários filmes que digitalizamos ao longo destes três anos vão fazer parte de um programa vasto em várias cidades do país. Algo que estava previsto desde o início. Vamos sempre adequar os filmes aos locais de apresentação. E este naturalmente é um dos faróis, um dos filmes-âncora deste programa. Como têm sido outros que temos vindo a apresentar, Os FaroleirosMaria do MarA Canção da Terra. Mas também as curtas metragens, que é a descoberta que este programa permite. A Cinemateca pode focar-se na digitalização de curtas metragens, que sem este programa, o PRR, não era possível acelerar. Este filme é um daqueles que vamos, naturalmente, apresentar a partir de Fevereiro nas sessões que vão fazer parte da retrospetiva.

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