Fechar os Olhos, de Victor Erice, vence LEFFEST: e é o grande filme do ano!

Fechar os Olhos, a obra-prima de Victor Erice foi o grande vencedor da 17ª edição do LEFFEST. Estreia em sala no dia 7 de dezembro.

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Victor Erice e Anna Torrent durante a rodagem de Cerrar los Ojos.

Sem grande surpresa, Fechar os Olhos foi declarado o Melhor Filme da edição deste ano do LEFFEST, na cerimónia de encerramento ocorreu este sábado, dia 18, no Teatro Tivoli BBVA. Foi esta a decisão do júri da seleção oficial composto por Elia Suleiman, Fanny Ardant, Georgi Gospodinov, Adriana Molder, Khalik Allah, Nitin Sawhney e Rachel Kushner.

O mesmo júri premiou ainda o realizador argentino Rodrigo Moreno, autor de Os Delinquentes, com o Grande Prémio do Júri João Bénard da Costa; já o Prémio do Júri foi atribuído a Do not Expect too Much From the End of the World, do romeno Radu Jude, tendo O Processo Goldman, do francês Cédric Kahn obtido uma menção especial. A prestação da atriz Bianca del Bravo foi igualmente premiada, pelo trabalho em Paradise is Burning, de Mika Gustafson. O prémio da nova secção Descobertas, cujo júri foi composto por Leonor Silveira, Selma Uamusse e Pedro Amaral, foi, ex-aequo, para Pet Shop Days, de Olmo Schnabel, e Grandmothers Footstep, de Lola Peploe.

Quanto ao reconhecimento atribuído do filme de Victor Erice parecem não restar dúvidas, ou surpresas, pois Fechar os Olhos, com todo o respeito aos diversas filmes da secção, percebe-se que pertence claramente a ‘outro campeonato’. Aliás, fora já exibido em grandes festivais, embora sem ter passado por uma secção competitiva. A começar pelo ‘imbróglio’ ocorrido no festival de Cannes, onde teve a sua estreia mundial, embora apenas como Première, aparentemente devido a atrasos na pós-produção, de resto refutadas pelo cineasta. Adiante.

No nosso caso, descobrimos o filme de Erice, em setembro passado, no festival de San Sebastian, onde fora exibido igualmenet fora de competição, apesar e ter sido, no nosso entender, o melhor filme no festival basco. Torna-se então uma decisão de enorme justiça este prémio obtido no evento de Paulo Branco.

Recorde-se ainda que Erice, um dos convidados desta edição do LEFFEST, participou num dos momentos mais relevantes do festival, precisamente numa sessão de conversa com o cineasta português Pedro Costa, na passada quinta-feira, dia 16, no cinema Nimas.

De referir que Fechar os Olhos é uma narrativa centrada no desaparecimento do ator Julio Arenas, durante a rodagem de um filme nos anos 90, e em que o realizador, seu amigo, o tenta encontrar três décadas mais tarde. Trata-se de um projeto ancorado nas raízes mais profundas do cinema, bem como no significado do próprio tempo (não é por acaso que o filme tem a duração de 169′).

Por aqui se opera uma reflexão sobre o passado, embora ser perder o sentido da investigação, bem como da interrogação do próprio cinema, seja na sua transição analógica para digital, seja até pelo próprio questionamento da cinefilia. Aliado a tudo isto, não é de subestimar a forte ligação que filme tem com O Espírito da Colmeia, do mesmo Erice, estreado há precisamente 50 anos. E com a curiosidade suplementar de marcar o regresso da atriz Ana Torrent a um papel com evidentes ligações e, por certo, carregado de memórias.

Sejamos claros, Fechar os Olhos é, seguramente, um dos grandes filmes do ano. Se não mesmo, o grande filme! Poderá ainda ser visto este domingo, no fecho do festival, embora tenha a sua estreia nacional marcada para o dia 7 de Dezembro, com distribuição da Nitrato Filmes.