Made in England: The Films of Powell and Pressburger – entre Scorsese e o céu do cinema

Martin Scorsese senta-se na cadeira para apresentar a sua história com o cinema de Powell e Pressburger: desde a descoberta destes filmes, ainda na televisão, ao processo de restauro e redescoberta de que hoje são alvo.

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Chegar a meio de um festival como o de Berlim, tem consequências graves – é como entrar num filme a meio… Mas sem desesperos. Até porque conseguimos encontrar o ‘nosso’ céu! Foi com o maravilhoso Made in England: The Films of Powell and Pressburger, dirigido por David Hilton, ele que trabalhara Michael Powell num telefilme durante os anos 80.

Made in Ingland é um tributo à famosa dupla – o britânico Michael Powell (1905-1990) e o húngaro Emeric Pressburger (1902-1988) – que nos deu varias obras primas de um cinema britânico que bem precisava delas. E com um valor de peso por ser totalmente narrado por Martin Scorsese, por sinal, o destinatário do Urso de Ouro honorário, um ano depois de Steven Spielberg.

Apesar de Scorsese ter no panorama do cinema de património o estatuto, a responsabilidade e o mérito de ter conseguido preservar muitos tesouros, o caso dos filmes de Powell-Pressburger possui um significado especial. Desde logo por ter sido a sua cinefilia, do outro lado do Atlântico, a responsável pelo interesse em conhecer um cinema pouco reconhecido pelos próprios britânicos. É então essa a maravilhosa viagem em que o autor de Killers of the Flower Moon, um dos fortes candidatos à edição deste ano dos Óscares, nos proporciona neste documentário. Permitindo o desfrute em cópias gloriosamente restauradas de filmes como The Life and Death of Colonel Blimp (1943), I Know Where I’m Going (1945), A Matter of Life and Death (1946), Black Narcissus (1947), Red Shoes (1948), The Tales of Hoffman (1951), todos eles gozando hoje um estatuto de prodígio que desafia a filmografia dos cineasta mais creditados. E, pelo caminho, vai desvendando através de imagens, a influência que estes filme tiveram na sua carreira, através de exemplos como O Touro Enraivecido (1980), ou A Idade da Inocência (1993), filmes que foram inspirados em cenas desta dupla.

Sentado numa cadeira, Martin Scorsese vai explicando (ou recordando) como a descoberta do cinema (ou melhor, da televisão, numa primeira fase) acabou por ser uma consequência da sua saúde débil, que o fazia estar fechado em casa diante do televisor, essa invenção recente, nos anos 50, para o proteger de ataques de asma. Mais tarde, já nos anos 70, durante a apresentação de Mean Streets (1973), acabaria por conhecer Michael Powell. E até de o convencer a vir trabalhar para Hollywood, onde o britânico acabaria até por casar com Thelma Shoonmaker, em 1984, a eterna montadora dos filmes de Scorsese.

Recorda hoje que, mesmo a preto e branco, com cópias muito danificadas, conseguiu detetar o esplendor desse duo, perfeitamente organizado nas suas atribuições – Powell encarregar-se-ia da realização, ao passo que Pressburger devolveria o guião original. E assim criaram as obras-primas acima referidas – uma em cada ano.

Seguramente, a preciosidade indicada, o ideal para começar um festival que já vai a meio… Estamos no céu do cinema!