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Berlinale: 75 anos de um festival de causas

A 75ª edição da Berlinale começa no dia 13 de fevereiro e termina a 23, no dia das eleições legislativas antecipadas na Alemanha. A cineasta portuguesa Paula Tomás Marques estará a concurso com a sua primeira longa metragem, Duas Vezes João Liberada.

Ao longo das décadas, o Festival de Berlim foi solidificando a sua posição como fórum europeu de valores e causas, onde a arte se fez política e a diversidade de género conta. A 75ª edição da Berlinale começa no dia 13 de fevereiro, com o filme do alemão Tom Tykwer, Das Licht/The Light, e termina a 23, no dia das eleições legislativas antecipadas.

Tricia Tuttle, a nova diretora artística da Berlinale – substituindo a dupla Carlo Chatrian e Mariette Rissenbeek -, procurou manter ativa essa raiz política, e dar-lhe até um novo fôlego, ao festival fundado em 1951. Inaugura agora a secção Perspetivas, onde 14 primeiras obras concorrem (incluindo Duas Vezes João Liberada, da portuguesa Paula Tomás Marques) e dão destaque às carreiras de novos cineastas internacionais. Quanto à programação, sobressaem diferentes experiências humanas distribuídas ao longo de diferentes géneros.

À parte da programação oficial, incluem-se diversos títulos e galas. Talvez a mais notável seja A Complete Unknown, de James Mangold, o drama musical sobre a vida de Bob Dylan, devidamente interpretada pelo inevitável Timothée Chalamet. Um outro momento de gala será a homenagem à carreira de Tilda Swinton, completada com a exibição de Friendship’s Death, um filme de Peter Wollen, realizado em 1987.

Num ano de todos os desafios, de resto, devidamente espelhados em registos documentais que auscultam o estado do planeta nas suas diversas secções. Por exemplo, o conflito na Ucrânia e em Gaza é bem evidente, com Timestamp, da ucraniana Kateryna Gornostai, explorando as experiências de professores e alunos que continuam a ensinar e a aprender no meio do conflito, seja em áreas desocupadas ou na linha da frente; mas também com A Letter to David, de Tom Shoval, capta o ator David Gunio, sequestrado pelo Hamas da sua casa a 7 de outubro de 2023.

A competição para o Urso de Ouro, presidida pelo cineasta americano Todd Haynes, promete: inclui filmes de 26 países, procurando alcançar uma paridade com trabalhos de oito realizadoras. Muito se espera das francesas Lucile Hadžihalilović e Hélène Cattet, até porque o seu filme Reflet dans un diamant mort conta com a prestação de Maria de Medeiros. Mas também de um quarteto de repetentes em Berlim: o americano Richard Linklater, o romeno Radu Jude, o coreano Hong Sang-soo ou o brasileiro Gabriel Mascaro.

No seu mais recente filme, O Último Azul, Gabriel Mascaro tende a prolongar a euforia provocada pelo fenómeno de Ainda Estou Aqui!, pela história de Tereza, uma mulher de 77 anos, forçada pelo governo a brasileiro a mudar-se para uma colónia de idosos. Só que em vez desse exílio forçado, decide embarcar numa viagem pela Amzónia para cumprir o seu último desejo.

O Último Azul, de Gabriel Mascaro, na mira do Urso ide Ouro.

Linklater regressa a Berlim com Blue Moon, dez anos depois de receber o Urso de Prata pela realização de Boyhood, um filme que fez ao longo de uma década. Também Radu Jude, um dos mais criativos e politicamente empenhados realizadores europeus, vencedor do Urso de Ouro, em 2021, Má Sorte no Sexo ou Porno Acidental, apresenta agora Kontinental ’25, sobre as consequências da expulsão um sem-abrigo. Por fim, o repetente crónico Hong Sang-soo, já um nome reservado na Berlinale, com o seu cinema de um fluxo humano e humor que une as diferentes personagens. Ele que conta nove participações, sendo oito delas na competição oficial. A mais recente foi o Grand Prix, Urso de Prata, por A Traveler’s Needs.

À margem da competição, fixamos ainda a Retrospetiva, ‘Wild, Weir, Bloody’, este ano dedicada ao cinema alemão do Leste e Oeste mais inconformado dos anos 70, ou ainda os Berlinale Classics, com um conjunto de cópias digitais restauradas de filmes entre os anos 30 e 80, evocando trabalhos de Alfred Hitchcock (The Paradine Case), Don Siegel (Dirty Harry) ou Yasuzô Massumura (The Wife of Seisaku).

Uma palavra ainda para a evocação dos 40 anos da estreia do monumental Shoah, de Claude Lanzmann. Neste contexto, bem como nos 80 anos do final da 2ª Guerra Mundial, o cineasta Guillaume Ribot apresenta o documento Je n’avais que le néant – ‘Shoah’ par Claude Lanzmann, que será exibido em complemento com o filme original que levou a Lanzmann 13 anos a fazer, seguindo por todo o mundo alguns dos sobreviventes, testemunhas e participantes no Holocausto.

Vai ser assim a nossa Berlinale.

Secção competitiva (Urso de Ouro)

Aride Léonor Serraille (França, Bélgica)

Blue Moon, de Richard Linklater (EUIA, Irlanda)

La cache, de Lionel Baier (Suíça, Luxemburgo, França)

Dreams, de Michel Franco (Mexico)

Dreams (Sex Love), de Dag Johan Haugerud (Noruega)

What Does That Nature Say to You, de Hong Sangsoo (Coreia do Sul)

Hot Milk, de Rebecca Lenkiewicz (Reino Unido)

If I Had Legs I’d Kick You, de Mary Bronstein (EUA)

Kontinental ’25, de Radu Jude (Roménia)

El mensaje, de Iván Fund (Argentina, Espanha)

Mother’s Baby, de Johanna Moder (Áustria, Suíça, Alemanha)

O último azul, de Gabriel Mascaro (Brasil, México, Chile, Holanda)

Reflet dans un diamant mort, Hélène Cattet, Bruno Forzani. (Bélgica, Luxemburgo, Itália, França)

Living the Land, Huo Meng (China)

Timestamp, de Kateryna Gornostai (Ucrânia, Luxemburgo, Holanda, França)

La Tour de Glace, de Lucile Hadžihalilović (França, Alemanha)

What Marielle Knows, de Frédéric Hambalek (Alemanha)

Girls on Wireby Vivian Qu (China)

Yunande Ameer Fakher Eldin (Alemanha, Canada, Itália, Palestina, Qatar, Jordânia, Arábia Saudita).

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