Enquanto filma os dois próximos filmes da saga erótica As 50 Sombras de Grey, Jamie Dornan veio de novo a Karlovy Vary apresentar o filme de guerra Anthropoid.
O 51º Festival de Karlovy Vary não poderia ter um filme mais indicado para a sua cerimónia de abertura que o drama de guerra Anthropoid, sobre a operação da resistência checoslovaca destinada a assassinar na ocupada Praga o oficial Reinhard Heydrich, o terceiro no ranking da hierarquia nazi – e que seria um dos principais arquitectos da Solução Final ou do Holocausto.
De resto, no papel, faria todo o sentido dar luz verde a esta co-produção checa-franco-britânica, liderada pelo britânico Sean Ellis (Metro Manila), evocando esse pedaço da traumática história local, ainda que relativamente desconhecido, aproveitando ainda as extraordinárias facilidades propiciadas pelos estúdios de Barrandov, onde decorreu a rodagem, bem como em localidades da capital checa.
Até aqui tudo bem. Incluindo toda a preocupação que a produção teve com manter algum do realismo desta história que poderá ser comparada com outras tentativas de assassinato de oficiais alemães. Na linha até do golpe semelhante evocado em Valquíria, de Brian Singer, com Tom Cruise a mostrar ganas de matar Hitler, apesar de envergar o mesmo uniforme. Mesmo que a comparação seja merecida, também para aí, já que o resultado é bem menos conseguido. A começar por um guião em que Ellis divide com Eddie Frewin, mas onde fica de fora parte de uma motivação que ligue o público a algo que quase se assemelha a uma missão suicida. O que nos dias de hoje motiva algum erguer de sobrolho.
Mais duvidosa é a escolha de Cillian Murphy e Jamie Dornan, ambos atores irlandeses, que terão de usar o seu melhor sotaque eslavo para interpretar os heróis e mártires checos Josef Gabcík e Jan Kubis, dois dos resistentes para-quedistas enviados pelo governo checo exilado em Londres para levar a cabo essa missão letal. Reza a história que depois dessa missão não integralmente cumprida ficariam barricados numa igreja ortodoxa em Praga durante várias horas diante de fogo intenso alemão. Depois da calmaria, é a oportunidade para Ellis desencadear aí um momento digno de Call of Duty, tal é a barreira de fogo instalada.
O muito brit, e sempre eficaz, Toby Jones, cumpre também num breve papel como o contacto da resistência checa. A este grupo junta-se ainda um motivo romântico para os dois resistentes, na figura de Charlotte LeBon e Anna Geislerová, elas próprias membros da resistência local.
Após uma evolução preparatória demasiado lenta, destinada a dar melhor conhecimento destes homens, o golpe lá se dá. E aí vemos também Dornan e fazer o que pode fazer ser credível como homem de ação. Precisamos de esperar mais de uma hora para que a ação desça para a igreja e as catacumbas em que os resistentes se entrincheiram para um “showdown” final que inevitavelmente nos recorda o sangrento Alamo, de 1960, com John Wayne e Richard Widmark a encabeçarem o grupo de soldados numa luta até à morte para se opor ao exército mexicano. As comparações também ficam por aqui, pois nem Murphy nem Dornan conseguem escapar a uma modestíssima prestação que quase parece talhada para televisão.
Até se percebe o interesse local que Anthropoid possa ter para o público checo, embora o desejo de alcançar uma mais larga audiência, só mesmo apostando nos nomes em cima dos créditos para transportar esse fardo. É que a tarefa não se apresenta nada fácil.