Um filme que descobrimos no passado FEST, exibido na sessão de abertura e que chega finalmente às nossas salas. Apesar do caracter bastante explícito das suas gravuras em estilo comic, o filme de Dome Karukoski está longe de ser ofensivo. É até bastante divertido. Ele que regressou ao FEST, depois de ter chegado a Espinho em 2009 para apresentar o seu segundo filme, Home of the Dark Butterflies. Quando voltou para casa levou também o Lince de Ouro. Regressou este ano com o muito antecipado Tom de Finland.
Paira no ar a provocação pela simples razão de dar corpo à vida do artista queer finlandês Touko Laaksonen, numa composição de Pekka Strang, celebrado pelos seus cartoons homoeróticos, conhecidos em todo o mundo, de homens musculados, bigodes farfalhudos e falos opressivos. Ao fim e ao cabo, os “Homens de Tom”. Ele que regressara da 2ª Guerra Mundial marcado pela experiência de defender a fronteira das tropas russas, onde de resto teria as suas primeiras experiência sexuais. Ao recuperar do trauma de guerra, vai pintando e descobrindo a sua arte, na companhia da irmã Kaija (Jessica Grabowsky), também artista.
Karukoski até poderia ter jogado a cartada do cinema de minorias, ou acenar a bandeira homofóbica, com justificação dados os ecos sentidos na Chechénia, onde o presidente local já decretou a “eliminação” da população gay. Mas ao optar por um tom bem mais desafiante, devidamente cercado por um fino sentido de humor, conserva assim uma maior proximidade ao tipo de arte provocadora a que Laaksonen chamava com bonomia os seus “dirty pictures”.
Tom de Finland teve estreia mundial no festival de Gotemburgo, onde receberia o prémio FIPRESCI, da crítica internacional, e serve de registo adequado sobre este artista que decidiu deitar abaixo as fronteiras da repressão e do tabu gay. Em Portugal tem estreia marcada para julho.