Depardieu como ‘boneco’ de DSK, embora não assumido. A parecença é imediata, reforçada até pela atual obesidade do ator. E bastará um segundo para perceber que o ator polémico encontraria aqui uma personagem destinada a casar com o seu estilo, tal como uma proximidade com o ex-Presidente do FMI.
E o que acontece então nos primeiros quinze minutos de Bem-Vindo a Nova Iorque? Pois bem, ficamos a conhecer os gostos particulares e exóticos de ‘George Devereaux’, um banqueiro internacional viciado em sexo, interpretado com toda a verve (e peso!) por Gerard Depardieu, que não se coíbe de questionar o namorado da filha durante um almoço com ambos sobre a qualidade do sexo da filha.
Ele que veremos logo a seguir numa delirante sequência com ‘call girls‘ – uma delas será Drena De Niro, filha de Robert -, onde jorra muito álcool e até cocktails com gelado que acabarão por escorrer num amontoado de corpos com sexo demasiado explicito. Em sucessão, um ménage à trois com duas russas e a tal cena em que o banqueiro quase obriga a empregada de hotel a fazer sexo oral… “You know who i am?”, terá dito na frase que ficou no cartaz.
Dito isto, importa dizer que com este filme o truculento realizador parece regressar a um estatuto que se aproxima ao melhor da sua obra. Depardieu tem a mesma dimensão “bigger than life” de Christopher Walken em O Rei de Nova Iorque. Não será até o novo título um trocadilho? Percebemos a relevância da historia, o rigor da mise-en-scene, sempre temperada com o excesso sem compromissos do realizador de Nova Iorque. Depardieu, que por duas vezes olha para a câmara e encarando-nos como que a indagar as nossas fraquezas, quase como Kevin Spacey em House of Cards.
Mas temos ainda a irrepreensível Jaqueline Bisset, no papel da mulher que se apaixonou pela grandeza deste homem que poderia até vir a ser candidato à Presidência francesa. Não deixam de ser curiosas por isso as cenas entre ambos no momento em que ‘Devereaux’ passa a viver em prisão domiciliária. Curiosidade: segundo o jornal Le Monde, o apartamento alugado pela sua mulher foi o mesmo que Anne Sinclair alugou para a prisão domiciliária com DSK.
Welcome to New York não será uma receita recomendada para todos os gostos. Certamente mais calhada para os fãs da vertente mais excessiva de Abel Ferrara. Até porque o ódio acaba por ser esperado e até bem-vindo.