Quinta-feira, Dezembro 5, 2024
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Wonderstruck: O Museu das Maravilhas – Uma eventual possibilidade de encantamento

O cinema de Todd Haynes sempre teve queda para viajar no tempo e captar uma certa emoção na deriva. Depois de Poison e Safe, o par de filmes que o afirmou como cineasta indie a não perder, durante os anos 90, Haynes passou a viajar no tempo com um cinema rigoroso, precioso, e frequentemente afetado. Há dois anos começou em Cannes a viagem de Carol que o levaria até aos Óscares. O ano passado, depois da passagem em competição de Wonderstruck, ficámos também com a sensação de que Todd passou já ao clube dos oscarizáveis, se bem que um pouco à distância, pois este Wondestruck: O Museu das Maravilhas não chega ao mesmo nível de Carol. Embora a fotografia de Ed Lachman, com quem tivemos a oportunidade de conversar recentemente, mantenha o mesmo nível.

https://www.youtube.com/watch?v=yJr-bVsJlFo

A adaptação do livro de Brian Selznick, autor também de A Invenção de Hugo, aquele livrinho a transpirar cinema adaptado por Scorsese, segue uma linha familiar à procura do encantamento, neste caso, a ligar duas crianças surdas, separadas por meio século, mais concretamente entre 1927 e 1977, numa procura pelos parentes, mas em que, uma vez mais, o cinema se intromete quase como personagem, entre a passagem do mudo ao sonoro. Aqui há um trabalho excelente na montagem sonora. Essa e a premissa de trabalhar dois filmes em paralelo, um a preto e branco e mudo e outro com os sons de 1977, unindo o destino afetivo destas duas criaturas como se de um mapa de um tesouro se tratasse. Aliás, esse trilho como que fora antecipado por uma das frases iniciais “Estamos todos na sarjeta, mas alguns de nos observam as estrelas”.

Wonderstruck fica também como uma saborosa homenagem a cidade de Nova Iorque e a sua história, nomeadamente a curadoria da cultura nos museus. E desse encantamento que atravessa os tempos nos fala o livro de Selznick e o filme de Haynes. Pena é que o filme acabe por se afirmar mais pelo  encantamento da técnica – e da fotografia de Ed Lachman – do que propriamente pela tal magia do cinema. É um Haynes já demasiado longe de Poison e Safe. e bem que talvez mais perto de Spielberg ou Scorsese. O que fica é apenas um filmezinho competente, mas em que se percebe que deveria germinar o tal encantamento que acaba por se perder. Sorry, fica para a próxima.

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