A ideia para Ilha dos Cães nasceu como o nascem muitas outras, a partir de uma premissa simples. No caso do novo filme de Wes Anderson começou com uma ideia, explorada por ele e Roman Coppola, de fazer uma história sobre cães abandonados numa ilha de lixo, como referiu o realizador na conferência de imprensa em Berlim, onde o fiem teve a sua estreia mundial. No entanto, Wes serviu-se ainda do dramaturgo Tom Stoppard, ao referir que este criava ideias originais a partir de duas ideias distintas que acabava por misturar. É aqui que entra em ação a vontade de Anderson em fazer algo no Japão, pelo menos alguma coisa que nos permitisse homenagear a paixão que tínhamos pelo cinema japonês e, em particular, por Kurosawa. É nesse mix que surge a ideia de situar a história num Japão inventado.
É claro que abrir o caminho para um projeto de animação representa sempre um investimento em vontade e em tempo para alguns anos, com o compromisso de superar todos os problemas, como por exemplo fazer um cão sorrir, o que Anderson revelou que pode significar dois anos e meio de trabalho. Como estas, muitas outros problemas podem surgir. Felizmente, garante, sempre conseguimos encontrar uma solução,em conjunto com toda a equipa. Tal como reinventar um universo político que faria sentido nesse Japão inventado, mas com ressonância na atualidade.
Onde não existiu uma reinvenção foi na conceção artística de construção dos modelos e da própria animação. Na animação stop motion há sempre uma parte que é feita com modelos. Uma viagem que Wes assume com gosto porque, como afirmou, adoro trabalhar com modelos e, em particular, eu sei que são modelos, e faço assim porque são modelos, mas a partir do momento em que estão no filme pretendo convencer o espetador que não é um modelo, masacho que ninguém desconfia que não é um modelo. No fundo, algo que associo com a História do Cinema.
Apesar do seu percurso de animação se ter iniciado com O Fantástico Senhor Raposo, em 2009, Anderson acabaria por usar vários modelos nas composições de outros filmes, como sucedeuMoonrise Kingdom(2012) ou Gran Budapest Hotel (2014). Uma descoberta que começou nos livros Roal Dahl, para O Senhor Raposo, bemcomo de animação japonesa. Nesse capítulo, o realizador assumiu a uma herança animada assente em dois cineastas, Kurosawa e Miyazaki, no fundo, o detalhe e até os silêncios. Em Miyazaki temos todos aqueles momentos de paz e silêncio que conferem um ritmo que não existe, por exemplo, na animação americana. Isso inspirou-me muito.
É claro que quando vemos O Fantástico Senhor Raposo ou Ilha dos Cães percebemos dificilmente nos esquecemos dos titulares das vozes que escutamos. Nesse sentido, as animações de Anderson são únicas por fazerem essa ponte entre uma fábula animada, mas que não perde o seu humanismo. É um trabalho muito rápido que fazemos, assume, que até é feito antes do filme, até porque a animação é muito influenciada pelo que ouvimos. Uma personificação que se estende até à composição dos próprios modelos, a maior parte miniaturas, recolhendo algumas características do autor da voz. Em particular o quinteto de cães que domina a ação do filme, composto pelas vozes que dispensam apresentações como as de Bryan Cranston, Edward Norton, Bob Balaban, Bill Murray, Jeff Goldblum, bem como a contribuição da cadela com a voz sensual de Scarlett Johansson.