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Guerra entre Paulo Branco e Terry Gilliam pode impedir que ‘O Homem Que Matou Dom Quixote’ seja exibido em Cannes

Abertura do festival de Cannes condicionada pelo ‘affaire Paulo Branco vs Terry Gilliam’. Cannes e Paulo Branco em braço de ferro sobre ‘O Homem que Matou Quixote’.

 

Afinal de contas, teremos ou não O Homem Que Matou Dom Quixote na sessão de encerramento do festival de Cannes? A resposta, essa, só se saberá no próximo 7 de maio, um dia antes da abertura do festival de Cannes, altura que se conhecerá a decisão definitiva à interdição de exibição da película movida no Tribunal de Paris pelo produtor Paulo Branco no passado dia 25 de abril. Isto apesar das três decisões anteriores que deram razão ao produtor português como detentor dos direitos do filme.

Sim, nos bastidores do 71º festival de Cannes trava-se uma verdadeira batalha de contornos quixotescos que promete dominar o início do festival. Desde logo, o festival respondeu a Paulo Branco nesta segunda-feira num comunicado oficial (que aqui se pode ler na íntegra) lamentando a posição de força salientada pelo advogado Juan Branco (filho de Paulo Branco, e que tem estado envolvido na defesa de Julian Assange, no caso Wikileaks). Em síntese, o documento assinado pelo Presidente Pierre Lescure e pelo delegado-geral Thierry Frémaux salienta o facto de ter selecionado o filme que Terry Gilliam tenta concretizar há duas décadas, baseando-se no contacto feito no inverno passado, em que, cita o documento, O Homem Que Matou Don Quixote foi-nos apresentado por Terry Gilliam e pela Kinology Films, bem como pelo distribuidor francês do filme. Isto apesar do produtor inicial do filme, Paulo Branco, os ter informado do litígio que o opunha ao realizador. Ainda assim, e após o visionamento do filme e em face da possibilidade de um lançamento quase simultâneo em França com 300 cópias, os responsáveis máximos pelo Festival de Cannes decidiram incluir essa obra na Seleção Oficial (fora de competição). Até porque, sublinham, selecionam as obras baseando-se em critérios puramente artísticos.

Apesar de tudo, e caso ocorra uma sentença desfavorável, o festival assume que respeitará a decisão da justica, seja ela qual for, ainda que subscreva a defesa dos realizadores e em particular de Terry Gilliam, até por se saber a importância que tem para ele um projeto que já conheceu tantas vicissitudes. Dizem-se também provocados uma derradeira vez por um realizador cujo episódio faz tombar definitivamente a sua máscara. Apesar de prometer, pela voz do seu advogado, uma “derrota desonrosa”.

A defesa de Paulo Branco, assumida pela advogada Claire Hoquet, aponta ainda o dedo ao festival, argumentando ser indecente, para não dizer abjecto, que o Festival de Cannes, para se justificar, compare a situação de Terry GILLIAM, que se recusa a respeitar decisões judiciais num Estado de Direito, à dos realizadores vítimas de repressão e censura nos seus países. Terminando, por dizer que o Festival de Cannes não está acima da lei. Que venha agora o juiz para decidir esta batalha quixotesca.

 

(reprodução na íntegra do comunicado emitido pela defesa do produtor Paulo Branco)

COMUNICADO DE IMPRENSA

Três decisões judiciais confirmaram que Paulo BRANCO e a ALFAMA FILMS PRODUCTION são os únicos detentores dos direitos do filme de Terry GILLIAM «The Man Who Killed Don Quixote».
Estas decisões têm a força de caso julgado e impedem qualquer projecção ou exploração do filme em França sem o acordo do seu produtor.
A exploração de um filme é impossível sem o visto de exploração do CNC, que no respeito da Lei, não o poderá emitir.
O Festival de Cannes, apesar de estar ao corrente de todos os processos, decidiu ignorar as decisões dos Tribunais, e foi por essa razão que é alvo de um processo de interdição.
É indecente, para não dizer abjecto, que o Festival de Cannes, para se justificar, compare a situação de Terry GILLIAM, que se recusa a respeitar decisões judiciais num Estado de Direito, à dos realizadores vítimas de repressão e censura nos seus países.
O Festival de Cannes esquece assim que sem os produtores, que assumem os riscos financeiros, nem os filmes, nem o Festival existiriam.
Durante 16 anos, de 2000 a 2016, Terry GILLIAM não arranjou um único produtor que tenha aceite retomar este projecto.
Se o filme existe hoje, é graças ao trabalho e aos investimentos realizados pela ALFAMA FILMS PRODUCTION e Paulo BRANCO, quando já ninguém acreditava neste projecto.
O Festival de Cannes não está acima da lei e a violência e agressividade de seu tom não mudarão nada.
Paulo BRANCO não usa nenhum método de intimidação ao recorrer à justiça para fazer valer os seus direitos.

Claire HOCQUET, advogada da ALFAMA FILMS PRODUCTION e Paulo BRANCO
30-04-18

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