Dia 6. Os que mais nos despertou a atenção na Seleção Caminhos e nos Ensaios.
O jovem cineasta de Figueiró dos Vinhos, Rafael Almeida, navegou na sua terceira curta metragem pelo universo da comédia romântica. Isto depois de ter explorado o ambiente de terror nas suas duas curtas anteriores. Descobrindo a Variável Perfeita, parte de um guião de Tiago Primitivo que aborda o lado de metalinguagem, do filme dentro do filme. No caso, o de um jovem que vive a ruptura com a namorada, mas que decide contactar a argumentista para alterar a sua sorte.
Foi também o dia em que Soldado Milhões, de Gonçalo Galvão Teles e Jorge Paixão da Costa, passou na mesma secção. Mérito para a dupla de realizadores ao dar consistência a uma produção que percorre diversas sequências de combate da Primeira Guerra Mundial com um nível muito aceitável, mesmo que prescinda aqui e ali de um realismo mais duro ou mais convincente. Ainda assim, um trabalho muito competente que procura divulgar o feito atribuído ao soldado Aníbal Milhais por se de ter distinguido em combate salvando um grupo de tropas nacionais da ameaça alemã. Milhais, depois considerado ‘Milhões’, é representado em momentos diferentes da sua vida por João Arrais, em 1916, durante a Guerra, e por Miguel Borges, já após a 2ª Guerra Mundial, junto da família e da filha ao refletor sobre esse período traumático da sua vida e das honras que lhe são prestadas. O filme conta ainda com a prsença muito sólida de Ivo Canelas.
Vimos ainda Praça Paris, uma coprodução lusobrasileira, assinada pela brasileira Lúcia Murat. Trata-se de um thriler sobre a violência doméstica no Rio de Janeiro, no caso sobre uma mulher (Grace Passô) e as sessões de terapia com uma psicóloga (Joana de Verona) para ultrapassar o trauma de ter sido violentada pelo pai. No entanto, o filme acaba por acercar-se mais de um certo realismo que, por vezes, se torna difícil de esclarecer. Em particular, o tratamento dessa violência sexual que foi operada pelo pai dela em ambiente de extrema carência social. Por outro lado, a evolução como se esbate a distância entre a profissional que ajuda até se tornar num reflexo em que a própria psicóloga acorda os seus próprios fantasmas.
Por fim, finalmente vimos na Secção Ensaios a curta do momento no cinema português Amor, Avenidas Novas, de Duarte Coimbra. Isto depois de ter já sido apresentada no IndieLisboa, com passagem depois pela Semada da Crítica em Cannes e premiada no Curtas de Vila do Conde. E há tanto para gostar deste filme de final de curso da Escola de Cinema.
Amor, Avenidas Novas aproxima-nos do puto Manel, preso entre a indolência, a vontade de parar de estudar e o efeito que produz um novo amor. Desde logo, a intenção do realizador em não renegar influências, mas temperá-las com uma doce melancolia própria e uma vontade de sonho que acaba por se tornar genuína.
É claro que Duarte Coimbra terá pensado em Jacques Demy ao decidir incluir diálogos cantados, a partir de letras das manas da banda punk Pega Monstro, e que nos falam dos “três folhados de carne que o pai de uma jovem teria trazido para o jantar deles”, ‘roubadas’ a um tema das manas punk da banda Pega Monstro. Ou ainda as possibilidades de narrativa das cartas fake dos pais, as canções de Lena d’Água muito 80’s, a referência de cinemas já desaparecidos, como o Londres ou o Quarteto. É claro que tambem passam por estas Avenidas os ventos da nova vaga do cinema português, na linhagem de Miguel Gomes ou João Nicolau convocando esse lado descontraído sem problemas de convocar para si aquelas memórias banais.
Amor, Avenidas Novas é daqueles filmes que apetece rever imediatamente – foi o que fizemos – para descobrir outros pequenos detalhes que nos fazem pensar que este puto Duarte Coimbra também vale mesmo milhões.