As presentes escolhas refletem os filmes vistos no decorrer do ano (nem tudo vimos, claro, alguns por impossibilidade e inúmeros por decisão própria).
Fizemos algumas alterações ao nosso top 10, depois de, finalmente, ver o irrecusável Mule, de Clint Eastwood.
VITALINA VARELA: O Requiem negro de uma cabo-verdiana
Vitalina Varela foi aquele que nos remeteu de forma mais consistente para uma ideia de cinema, de movimento, de memória. Pedro Costa depurou assim ao limite o seu cinema, procurando a luz nas trevas e o fragmento que outrora foi fotografia e antes disso pintura. E é tudo isso o cinema assombrado de Pedro Costa, é tudo isso Vitalina Varela.
“Talvez por isso o vejamos como uma missa ou requiem, num gesto cinematográfico profundo que permite a Pedro Costa levar ainda mais longe a sua atitude de depuração estética que cogita até a dimensão mítica e ontológica do cinema.” (Insider outubro 2019)
MEKTOUBE, MEU AMOR: Aquele querido mês de Agosto
Mektoube My Love é talvez o oposto de Vitalina Varela. É o cinema profundamente orgânico e sensorial de Kechiche, o cinema da luz e do sol, mas também do tempo, da sensibilidade e da sensualidade.
“E do que falamos quando então falamos de amor? Por que se trata de Kechiche é natural que esta seja um cinema em que os corpos e as respetivas curvas tomam conta da ação, bem como as suas diversas dimensões orgânicas. Seja a fazer sexo, a comer, a beber, a beijar. E até o cheiro quase nos invade neste filme demasiadamente sensorial. “ (Insider fevereiro 2019)
ERA UMA VEZ… EM HOLLYWOOD: Tarantino não está ‘out of time’
Possivelmente, o grande filme de Cannes 2019. Talvez não terá ganho pelo excesso de testosterona, indigesto para muitos, na combinação (talvez arriscada por excessiva) entre Leonardo DiCaprio e Brad Pitt. Seja como for, fica “um misto de celebração aggiornada de um cinema fora de moda, embora espevitado pelo inegável lado endiabrado de Quentin a dar-lhe sangue novo”.
“Nas bodas de prata de Pulp Fiction, o meio centenário de Woodstock, dos crimes Manson, vem este enfant terrible encenar a sua ode a Hollywood, sempre em jeito exploitation, ao cinema que já não se faz. Era uma Vez… em Hollywood é isso tudo. É o cinema a olhar o cinema, a perceber porque há coisas que valem a pena ressuscitar. “ (Insider Agosto 2019)
DIVINO AMOR: Fé no erotismo e na rave evangélica
“O novo filme do brasileiro Gabriel Mascaro encena um Brasil distópico em que “a ideia da fé evangélica se fundo com o erotismo dos pink movies japoneses dos anos 70 e até mesmo da pornochanchada brasileira na mesma altura. Só que ao antecipar esse futuro, Mascaro acaba por não se deslocar muito do presente. Mas nós temos uma fé desmedida neste erotismo de rave evangélica.” (Insider Outubro 2019)
DIAMANTINO: Fama, futebol e sebastianismo no delírio de Gabriel Abrantes
“No dia em que vimos o Livre D´Image, de Godard, talvez o único cineasta vivo que é alvo de uma devoção quase religiosa – mesmo que o seu filme seja mais divisório que consensual -, descobrimos também Diamantino, o delírio surreal de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt. O que apetece dizer já é que se trata do par de filmes mais insólito do festival, pelo menos até ao momento, embora nos pareça difícil de superar a ousadia de rasgar desta forma os limites do cinema.” (Insider Abril 2019)
Top 10 2019
1 – Vitalina Varela, Pedro Costa
2 – Mektoub, Meu Amor, Abdellatif Kechiche
3 – Era Uma Vez… Em Hollywood, Quentin Tarantino
4 – Divino Amor, Gabriel Mascaro
5 – Diamantino, Gabriel Abrantes
6 – Bacurau, Kléber Mendonça Filho
7 – Joker, Todd Phillips
8 – Ayka, Sergey Dvortsevoy
9 – Parasitas, Bong Joon-ho
10 – O Correio da Droga, Clint Eastwood