François Ozon vai declarar aberta a 72ª edições da Berlinale, com Peter von Kant, a sua visão livre, ou troca de sexo, de as Lágrimas Amargas de Petra von Kant, a obra mestra de Rainer Werner Fassbinder. Mas Jorge Jácome irá dizer que, com ele, tudo é Super Natural. É esta a Berlinale ao vivo!
Berlim está preparada para receber de novo a Berlinale. Com presença de jornalistas e público. Como deve de ser. Um compromisso que funcionou quase como um acto de resistência, depois de um ano em que o festival foi apenas online. Por isso, quando amanhã se abrirem as portas, não do Berlinale Palatz, mas de várias salas do CinemaxX, para a sessão de imprensa do filme de abertura Peter von Kant, haverá por certo um sentimento de uma pequena grande conquista sobre a pandemia. Apesar de existir, o risco é assumido por Carlo Chatrian, director artístico do festival, e Mariette Rissenbeek, directora executiva da Berlinale. Há a confiança de que toda a imprensa está fully vaccinated e que os testes diários irão permitir a festa do cinema. Mesmo com um festival competitivo mais curto, de apenas uma semana, que fará horas extraordinárias aos jornalistas que farão a cobertura in loco.
Começamos então pela troca de sexos de Ozon, com Petra von Kant a assumir-se como Peter, na pele de Denis Menochet, ao lado de Isabelle Adjani e de Hannah Schygulla a trazer a sua própria recordação do filme que rodou com Fassbinder em 1971. Ozon regressa ao mestre alemão depois de mostrar em Berlim, no ano 2000, o provocador Gotas de Água em Pés Escaldantes. Ele que é um habitué, pois vai já na sexta participação. Aliás, ainda em 2019, recebeu o Prémio do Júri pelo filme com o filme Graças a Deus, evocando o escândalo dos abusos da igreja católica. Entretanto, 8 Mulheres, com um sumptuoso cast feminino, será exibido a propósito da homenagem a Isabellle Huppert.
Ao realizador americano M. Night Shyamalan caberá a responsabilidade de presidir ao júri oficial que irá anunciar no dia 16 os premiados da 72ª edição. Uma reunião seguramente aguerrida, com a participação do também cineasta brasileiro Karin Ainouz, o produtor francês, de origem tunisina, Said Ben Said, o cineasta japonês Ryûsuke Hamaguchi (certamente contente pela recepção que o seu filme Drive My Car teve nas nomeações aos Óscares), a actriz Connie Nielsen e ainda documentarista alemã Anne Zohra Berrached e ainda o realizador Tsitsi Dangarembga, do Zimbabué.
Portugal, já se sabe, deixará a sua pegada, com uma participação entre vários filmes de longas e curtas metragens. Desde logo, Super Natural, de Jorge Jácome, do Fórum, e By Flavio, de Pedro Cabeleira, em concurso para o Urso de Ouro. Teremos ainda na secção Generation o documentário de Inês T. Alves, intitulado As Águas de Pastaza, além da curta de Carlos Lobo, Aos Dezasseis. Este ano, a promoção Shooting Stars reconhece o trabalho do actor João Nunes Monteiro, em particular em Os Diários de Otsoga, de Miguel Gomes e Maureen Fazendeiro, bem como Mosquito, de João Nuno Pinto.
Vá, vamos todos dizer: ich bin ein Berliner!