Sexta-feira, Outubro 18, 2024
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Mostra que Somos Humanos: os direitos humanos discutidos através do cinema

Associação Somos Humanos foi criada com o objetivo de promover um diálogo entre o cinema e os temas ligados aos direitos humanos. E o seu gesto de estreia concretizou-se na apresentação da primeira “Mostra Que Somos Humanos”, entre os dias 28 e 29 de Junho, entre as salas do ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, no pólo universitário de Monsanto, a Biblioteca/Espaço Cultural Cinema Europa, em Campo de Ourique, e a Casa do Comum, no Bairro Alto.

programação refletiu temas como “Restrição à Liberdade; Contextos de Violência e GuerraMovimentos, Fugas e RefúgioDiversidade e Violência EstruturalIdentidades em Luta e Emancipação; e Direitos Humanos e Natureza”.

“Através do cinema, sugere-se uma plataforma de discussão das questões fraturantes da nossa sociedade, inscritas num mundo global: não só dos seres humanos, mas também dos mais-que-humanos, ou seja, a Natureza”, explica Paulo Portugal, o presidente desta associação e crítico de cinema.

“Depois de muitos anos – décadas – a ver cinema, percebo já há algum tempo que cada vez mais um público crescente procura descobrir algo mais do que um discreto ‘feel good’ na sala escura: algo que reflita as preocupações de hoje, as nossas! Em suma, aquilo que o cinema sempre foi, ou seja, um ato de resistência. É isso que reflete esta Mostra”, afirma o dinamizador da iniciativa ao Esquerda.net, recordando que a ideia de uma iniciativa destas lhe surgiu há dez anos, quando estudava Relações Internacionais, ao perceber ”que esse sentimento se unia ao meu gosto cinéfilo”.

 Huellas, de Valeria Sarmiento

“Na altura, o Mediterrâneo era notícia pelas mais tristes razões, hoje quase nos habituamos a essa tristeza”, reflete Paulo Portugal, destacando alguns dos momentos da mostra que retratam da melhor forma os tempos que vivemos. A começar pelos filmes de abertura e encerramento do evento: “a memória de Valeria Sarmiento a demonstrar como o DNA do ‘trauma’, em Huellas, lida com os 50 anos do derrube da democracia de Allende, substituindo-a pelo terror de Pinochet”; e o trabalho do palestiniano Kamal Aljafari sobre “a usurpação da memória levada a caso pelas tropas israelitas, ao apropriar-se do arquivo nacional durante a invasão de 1982, em Beirute”. “Isto sem poder ignorar cada um dos projetos que iremos exibir, pois cada um aborda de uma forma cinematográfica os diversos temas que afloramos”, detalha, sublinhando também a importância dos vários cinedebates para discutir esses temas com o público e uma programação que traz “gestos de cinema que nos mostram como seres humanos”.

Ao longo de dois dias será exibida cerca de uma dezena de curtas e longas-metragens de autores de Portugal, Brasil, Itália, Rússia, Palestina e Chile, seguidos de debates presenciais ou online com os realizadores. Todas as sessões têm entrada livre.

 Olha Pra Elas, Tatiana Sager e Renato Dornelles

Na sexta-feira, a programação do dia tem lugar no ISCSP e começa às 9h30 com sessão de abertura da mostra. Segue-se às 10h a projeção de Huellas, uma viagem à procura dos traços do passado da ditadura chilena, seguindo-se uma conversa com a realizadora Valeria Sarmiento. A sessão seguinte, às 11h30, começa com um clipe musical de Paulo Carneiro  com a população de Covas do Barroso que o inspirou a fazer o filme A Savana e a Montanha, apresentado este ano no festival de Cannes. O filme da sessão é Olha pra Elas, de Tatiana Sager e Renato Dornelles, em torno do sistema prisional feminino brasileiro, seguido de conversa com os realizadores.

 África Vermelha, de Alexander Markov

À tarde há novo clipe musical de Paulo Carneiro a anteceder o filme África Vermelha, de Alexander Markov, também presente para o debate no final. Trata-se de uma co-produção russo-portuguesa que usa as imagens dos arquivos soviéticos a partir da década de 60 para testemunhar a desagregação do colonialismo europeu.

A programação no ISCSP encerra com a inauguração da exposição Humanos apesar de tudo: Testemunhos da Associação Memorial, uma associação russa fundada em 1988 por vítimas da repressão e que em 2022 venceu o Nobel da Paz, seguida de uma palestra com o ativista russo-português Pavel Elizarov, que trabalhou de perto com figuras da oposição a Putin como Boris Nemtsov e Alexei Navalny.

Na Nature (2017)

À noite, tanto na sexta como no sábado, a programação muda-se para a Casa do Comum (rua da Rosa 285) com a projeção às 21h do documentário italiano My Nature, de Massimilano Ferraina e Gianluca Loffredo, que conta a história de Simone, que nasceu Simona e conta como foi uma vida marcada pela transformação e autoconhecimento. Segue-se a habitual conversa com um dos realizadores, antes da performance de Rosi Ferh marcada para as 23h, Uli – Voz Off, em torno dos obstáculos no caminho de uma adolescente refugiada.

 Rosi Ferh, ULI Voz Off

A programação de sábado terá lugar ao longo do dia na Biblioteca/Espaço Cultural Cinema Europa (R. Francisco Metrass 28) e arranca às 10h com as boas vindas seguidas de uma conversa com o realizador português Paulo Carneiroem torno de A Savana e a Montanha e da luta da população de Covas do Barroso contra a exploração de lítio na região, presente através dos seus clipes musicais ao longo desta mostra.

Paulo Carneiro

Ainda de manhã haverá espaço para três curtas: uma coletiva e vinda do Brasil, Black Out, uma reflexão sobre o auto-registo audiovisual Quilombola, assinado por Felipe Peres Calheiros; e duas da autoria de Mário PatrocínioO Afinador de Pianos e Antes do Nascer da Lua, seguidas de conversa com o realizador.

Para a tarde de sábado está reservado um dos pontos altos desta mostra, com a exibição às 15h de A Fidai Film, do realizador palestiniano Kamal Aljafari, com imagens do arquivo do Centro de Investigação Palestiniano de Beirute saqueado durante a invasão israelita do sul do Líbano em 1982. Aljafari teve recentemente a sua obra em retrospetiva no IndieLisboa e participará também numa conversa a seguir à projeção do filme. A primeira “Mostra que Somos Humanos” encerra em festa, a partir das 22h, na Casa do Comum.

 A Fidai Film, Kamal Aljafari

(matéria publicada no Esquerda.net)

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