Quinta-feira, Dezembro 5, 2024
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Jake Gyllanhaal: “Ficava deprimido se agradasse a toda a gente”

Prince of Persia
É difícil levar a sério uma entrevista com Jake Gyllenhaal. Brincalhão, procura brincar com o sentido das respostas. Por isso, o melhor é entrar no jogo. No caso, é mesmo a adaptação de um videojogo. Assim se cria mais um novo herói de acção. Falámos com Jake em Londres.

Percebe-se que se divertiu a fazer este filme. É bom quando podemos divertir-nos no trabalho, não acha?

Sim, foi um trabalho bem divertido. Até porque eu gosto de não me levar muito a sério…

Divertido, mas também  desgastante do ponto de vista físico, imagino…

É verdade, mas não tanto quando se possa parecer. Quando estamos a gerar este tipo de energia com toda a equipa, é impossível não ficar contagiado pela adrenalina. Eu gosto de fazer filmes de todos os géneros e dimensões, mas este era quase como um evento desportivo, em que tinha de saltar, correr, lutar… Sim, foi cansativo.

Como se sentiu a exibir todos aqueles músculos? Ainda os conserva?

Sim, ainda os conservo… (risos) Alguns (risos). Não, minto. Continuo a ter os músculos todos, mas ainda que não com o mesmo volume. Mas como me senti? Bom, senti-me bem…. Não quero gastar todo o tempo a descrever o que senti, mas foi óptimo, pois sentia que era capaz de qualquer coisa…

Mas sentiu-se sexy?

Eu sinto-me sexy quando me estou bem interiormente. E não propriamente quando estou a contar os músculos que tenho…. (risos)

E o que fez então para ficar com esse corpo?

Bom, senti-me sexy… (risos) Não, primeiro deixei crescer cabelo durante seis meses. Depois prossegui um tratamento exaustivo de champô e amaciador… (risos) E não era um 2 em 1, era primeiro o champô e depois o amaciador… As massagens no couro cabeludo ajudam bastante à definição muscular dos braços e peitorais…

O cabelo comprido que vemos no filme era real?

Quase todo, sim.

Acha que por ser ainda um actor jovem é que pode dedicar-se a um projecto como este?

Como jovem – acho que ainda me considero jovem – ainda me levo muito a sério. E talvez por ter já feito papéis mais sérios percebi que poderia fazer um filme em que teria oportunidade de me divertir mais. Há pessoas que acham que para ser um bom actor temos de ser muito sérios, mas eu discordo totalmente com a ideia à medida que vou ganhando mais experiência. Não me parece que a tortura seja o melhor caminho para a criatividade…

O Jake continua a ter enorme credibilidade com os seus fãs; não me lembro de ninguém que não goste de si. Como é que consegue essa empatia com o público?

Não sei o que lhe posso dizer, mas consigo indicar-lhe algumas pessoas que não gostam de mim; já conheci alguns. E não me agrada muito isso. Acho que é importante as pessoas não gostarem de mim… (risos) É claro que gosto, é claro quer gosto que gostem de mim. Sou um actor… Mas acho também que é saudável fazer escolhas que deixam as pessoas perturbadas ou desconfortáveis. Ficava deprimido se pretendesse agradar a toda a gente.

Entrevistei recentemente a sua irmã, que  muito o elogia. Percebe-se que são muito unidos. Como é, discutem muito os projectos em que cada um se envolve?

Eu simplesmente adoro a minha irmã  e sempre fiquei abismado com o trabalho dela. Isto apesar de não falarmos muito o que cada um de nós anda a fazer. Isso não significa que não sei o que ela anda a fazer. Foi recentemente nomeada para um Óscar da Academia (Crazy Heart), o que me parece de inteira justiça, pois sentia-me embaraçado por eu já ter recebido esse reconhecimento e ela não. A Maggie é uma irmã incrível. E uma incrível mãe. O que me faz gostar ainda mais dela.

E o Jake será um tio igualmente incrível?

Um tio incrível!?… Digamos que não estou mal (risos). Acho que sou um bom tio. Estou a trabalhar nisso. Também não é suposto ser um tio incrível… (risos)

Disse que se sente ainda muito jovem, mas a verdade é que está prestes a fazer 30 anos…

É verdade, acaba por algo importante, até porque estão a acontecer muitas coisas na minha vida e ao mesmo tempo.

Quem são os seus melhores amigos?

Tenho uma série de amigos com quem cresci na ilha onde vivi com os meus pais e que se chama Martha’s Vineyard e também em Los Angeles. O meu melhor amigo é um cozinheiro e vive em Martha’s Vineard.

O que faz quando não esta a filmar?

O que gosto mais de fazer é andar de bicicleta por todo o mundo e fazer surf com os meus amigos.

Já  vi que não é dado a festas…

Festas? De vez em quando. Mas como gosto de estar mais no exterior, tenho de deitar-me cedo.

Qual foi o último CD que fez download?

Gosto muito dos Kings os León, e acho que fiz o download do Eminem..

E paga pelos downloads que faz?

Pago, pago… (risos)

Já  jogava Prince of Pérsia antes de fazer o filme?

Sim, joguei o original, deveria ter uns oito ou nove anos. Depois, só recentemente joguei o mais recente Sands of Time e viciei-me um pouco. Isso permitiu-me perceber as diferenças narrativas entre o jogo e a história do filme.

Lembra-se de quando observava os seus pais (ambos na indústria de cinema) de pensar: “ok, é isto que eu quero fazer um dia?”

Acho que nessa atura estava mais interessado em jogar O Príncipe da Pérsia do que ser actor. É claro que cresceu porque fui conhecendo muito bem os diferentes departamentos de um filme. E lembro-me de o meu pai me dar um walkie-talkie e de fazer recados entre os vários departamentos. Mais tarde, percebi que era divertido e que até se poderia ganhar dinheiro…. (risos)

Nessa altura, a sua irmã  partilhava o mesmo interesse?

A minha irmã estava muito mais envolvida do que eu em peças de teatro na escola e cantava imenso. Lembro-me de regressar da escola com ela de carro e de ela cantar altíssimo. Sempre fui muito teatral.

Acha que é mais fácil os homens fazerem carreira em Hollywood?

Acho que é algo que está  a mudar. Talvez no passado seja assim. Por exemplo, a Meryl Streep está  a tornar-se num caso sério de longevidade. Mas isso também tem a ver com o talento. E acho que a minha irmã também tem o mesmo talento, apesar de poder ser presunçoso. Não me parece que seja importante ser actor ou actriz.

Como avalia o seu trabalho em Brokeback Mountain?

Foi um projecto muito interessante, apesar de nunca termos sonhado que teria o reconhecimento que teve. Não era um filme com muita acção, quer dizer, tinha alguma acção… (risos) mas não era bem a mesma coisa, como O Prinicipe da Pérsia, por exemplo. O filme transmitia uma certa rigidez e uma intimidade diferente de tudo o que já fiz. Era uma intimidade entre eu, a Michelle e o Heath. Foi muito especial.

 

PAULO PORTUGAL, EM LONDRES

(entrevista publicada na revista Flash)

 

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