Fantasporto 2017 – Fora de competição
Crianças sírias brincam nos destroços da guerra que bateu à sua porta; uma delas, ensaia uma realidade possível com a Barbie e o Ken. É talvez essa a ficção possível num mundo onde o céu é atravessado por pombas e aviões a jato. O realizador estreante David Ruf juntará cinco petizes em debandada à procura de um paraíso perdido. Com a particularidade delas próprias serem refugiadas sírias e que ensaiaram na Turquia este docudrama encantado. Talvez uma espécie de reino de Oz, que denominam ‘Land of Light’, e ‘terra da luz’. Um lado estranho, quase irreal, que nos fez lembrar o recente Kusturica Na Via Lactea.
É claro que diante da bondade de uma proposta semelhante, é difícil encará-la fora de um reino de boas intenções, onde a teimosia de fazer cinema dificilmente passa ao lado das boas intenções. Seja como for, Land of Light assume-se como um registo conseguido, talhado talvez para uma qualquer seção “Generation”, com destaque para este grupo de crianças sírias refugiadas aqui no papel de inesperado atores. Digamos que a boa intenção, aliada ao empenho acaba por resultar num filme decente. O que já não é nada mau.
Dito isto, embarcamos então com este punhado de garotos numa caminhada por montes e vales, onde os adultos são inimigos ou ‘fantasmas’. Raisa, Walid, Sharazad, Firas e Samir acabam por incorporar as diversas camadas humanas e diferentes atitudes perante um conflito, onde a ficção, a realidade e o sonho acabam por sugerir uma leitura capaz de segurar o filme. Seja a menina decidida, o rapaz protetor que ousa pegar numa arma, a outra mais maternal e ingénua, ou o menino que opta antes por usar a cabeça, para além da inocência do mais novo.
David Ruf acaba por fazer com estes elementos um filme meritório, senão mesmo bastante interessante, a sugerir uma reflexão pós-visionamento enfatizada por um final que recupera o lado documental. Apesar de pueril, um filme feito nestas condições não deixa de merecer o devido sinal de apreço.