Terça-feira, Outubro 8, 2024
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Era uma Vez em Los Angeles: brincar aos detetives em Venice Beach

Ah, Venice Beach! As casas milionárias, o mar, a areia, os graffitis, o ginásio de body building, as palmeiras, as mulheres sexy, os skaters… Espera, não é o Bruce Willis a andar de skate em pelota? Pois é, mas qual é o problema? Então ele não começou a sua carreira na comédia? Sim, precisamente em Modelo e Detetive, ao lado de Cybill Shepherd, em meados dos anos 80. É um pouco esse regresso que aqui temos. E até com um Willis devidamente sequinho e em forma para o que der e vier. Neste caso, o que vem é uma comédia inócua, apenas para passar o tempo. Se houver queixas, estas seguirão direitinhas para Mark Cullen, já que assina também o guião, de parceria com o mano Robb Cullen. Até porque parte do gozo deste filme advém do guião. Sem ser genial, dá para passar duas horitas de distração.

Temos de viver a vida; ela passa que é um instante. Assim vai avisando este veterano chamado Steve Ford, um dos únicos detetives privados desta pequena cidade que faz parte da grande Los Angeles. É aos pirralhos de doze anos que vai dando conselhos, para que não cometam os mesmos erros que ele: tudo começa com um charrinho, só que depois vem o pó, as prostitutas e quando dás conta, já estás agarrado e acabas no chão com o cano de uma pistola na boa a perguntar-te: “será hoje o meu dia”? Sim, este é um L.A. rush, como diz o título original, e que por cá optou-se pelo trocadilho com o tal western famoso. Ah, e depois há também o seu sidekick John (Thomas Middletich a esforçar-se por preencher as pausas), com a missão de vigiar a voluptuosa e exótica bombshell Nola, nada menos que a australiana Jessica Gomes que mantém o seu passaporte de cidadã portuguesa e parte da origem chinesa e de Singapura – mas, calma, que antes do filme chegar ao fim a menina ainda se irá desnudar, ainda que com menos arte do que as poses para a Sports Illustrated. Isto porque os irmãos zelosos insistem que ela volte para casa. Neste caso, para casa de Steve.

Falta referir que os maninhos são bestinhas co corpo de jogadores de rugby e que torcem o beicinho assim que a encontram na cama com o bom do Steve, que apesar de carequinha e grisalho não terá perdido os dotes da arte do engate. Não lhe resta alternativa do que mergulhar para a piscina como veio ao mundo e a pegar na tábua com rodas para escapar à sua sorte maldita. Só que antes de decorridos 15 minutos já Steve terá feito um tour por Venice nuzinho, escapado à polícia e escondido a pistola no… traseiro. Ah, então é isto que se sente, dirá quando a retira das nádegas. Não é preciso ter visto muitos filmes para se perceber que aqui o motor da narrativa é a piada com ação, a chalaça mais sou menos gráfica, com insistentes bilhetes postais aéreos como cenário.

Claro, há mais do que isto. Não muito mais, é verdade. Mas, sim, uma investigação de tráfico de droga. E aqui entra em cena Spider (ele próprio Jason Mamoa), o dealer local, com ligações ao cartel de Sinaloa. Numa crescente galeria de personagens, conhecemos também Dave Jones (John Goodman, com capachinho), um rapaz com um passado de surfista flipado, mas que conserva a paixão pelas tábuas às quais vai puxando o lustro. Há também uma perninha de Famke Jansen, a brasa dos anos 90 (lembram-se dela em 007 Goldeneye, como a Xenia Onatopp?) aqui a mostrar que ainda está para as curvas. Só falta o cãozito, um terrier que ajuda compor o ramalhete. Ele que será raptado…

Sim, não é de testosterona que se trata. Já passamos essa fase. O que fica é a vontade de gozar o tempo. É disso que se trata, ver um filme em ritmo ligeiramente noir que se vê a beber uma cerveja ou uma cola e a engolir pizza ou pipoca. Temos então uma espécie de reunion de old timers a mostrar que ainda estão para as curvas. Sim, uma variante de Reds, sim também com Willis. Mas, porém, não, não é um grande filme. Também não tem de ser. Encará-lo como uma tentativa de descobrir a pólvora seria um erro, mesmo nas comédias para adultos que os menos adultos querem ver.

Pelo meio haverá uma mercadoria de pó branco que foi desviada de Spider o que empurrará esta dupla, Steve e Jones, numa missão que todos mais ou menos sabemos como vai terminar. Quem patrocina é Adam Goldberg que atira para o meio uma investigação para saber quem inunda a cidade com graffitis.

Mais piada, menos piada, o filme segue o tal rumo trilhado por um guião alinhavado por graçolas dos manos Cullen destinadas a um consumo ligeiro de rapaziada em lazer. É mais ou menos esta a receita. Falar de cinema ou de narrativas será perder tempo. Permitindo-nos uma liberdade de associação comparativa, diríamos que Era Uma Vez em Los Angeles não é gastronomia é fast food. Nesse sentido, com o tamanho de uma pizza familiar. Sempre com o tal bilhete postal de Venice Beach. Isso sim, vale mesmo conhecer.

 

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