Cada vez mais, as formas de programação alternativas ganham espaço em abordagens temáticas e pequenas mostras. Desta vez, o foco é Macau, com o pequeno ciclo “Cinema Macau. Passado e Presente”, organizado e programado por Maria do Carmo Piçarra, em colaboração com a Cinemateca Portuguesa, numa dezena de sessões no Museu do Oriente e Cinemateca, ao longo do mês de janeiro e fevereiro. Aborda-se assim uma reflexão histórica e fílmica com o objetivo de desvendar “a pluralidade de olhares sobre Macau durante o século XX bem como após a transição para a administração do território pela China”, conforme esclarece o comunicado do evento.
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O programa inicia-se no dia 7 de janeiro, com uma sessão dedicada ao “cinema de regime”, e a exibição de curtas concebidas entre meados dos anos 30 e 1960, com apresentação de Maria do Carmo Piçarra. Desde logo, recuperam-se os seis minutos de Macau – Cidade Progressiva e Monumental (1935), de Antunes Amor, um cineasta amador que nos trás o único registo em imagens em movimento de Macau até meados do século XX, para além de registos de Ricardo Malheiro (1952 e 1953) e de Miguel Spiguel (1956 e 1960). Curiosamente, acabam por ser contemporâneos do clássico Macao, de Josef von Sternberg e Nicholas Ray, de 1952, que será igualmente exibido na Cinemateca, a par da conferência “A representação de Macau colonial no cinema de Hollywood durante os anos 50”, moderada por Rui Lopes.
Incontornável ainda a visão de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, em A Última Vez Que Vi Macau (2012), um filme que tem um curioso diálogo musical com o original de Sterbnerg, e que contará com presença dos realizadores no Museu do Oriente, para além da curta de Ivo Ferreira, que mantém residência local, O Estrangeiro (2010), bem como clássico de Luís Filipe Rocha, em Amor e Dedinhos de Pé (1992), numa sessão especial na Cinemateca Portuguesa. Claro.
O ciclo inclui tembém imagens captadas por cineastas estrangeiros, ao serviço do regime, como Miguel Spiguel e Jean Leduc, bem como a captação das “angústias dos residentes no território com a perspetiva da transição da soberania”, nomeadamente Manuel Faria de Almeida, da geração do Novo Cinema português, e na origem da Televisão de Macau. O programa aborda igualmente a visão atual dos jornalistas portugueses Filipa Queiroz e Hélder Beja, para além de um conjunto de filmes da “primeira geração de realizadores de Macau”, refletindo as alterações geográficas, sociais e de uma certa nostalgia.