Juliette Binoche é a poster girl do festival, cujo o rosto que nos mira e ocupa todo o edifício Kursaal, o quartel-general do Festival de San Sebastian. Mas ainda esta manhã estivemos com ela na sala de conferência de imprensa. E os motivos eram vários, sendo que a entrega do prémio Donostia, agendado para hoje, dominou as atenções. Isto além de apresentar Le Lycéen, do francês Christophe Honoré, na secção oficial a concurso para a Concha de Ouro, bem como Avec amour et acharnement, de Claire Denis, na secção Pérolas, uma vez que o filme foi apresentado no festival de Berlim. E, sim, a actriz que trabalhou já com tantos cineastas, falou ainda da sua experiência muito particular com o recém-falecido Jean-Luc Godard.
“Foi um banho frio”, começou por explicar a propósito da sua participação em Je vous salue Marie/Eu vos saúdo Maria (1985). Isto porque “ele procurava qualquer coisa em mim que não descobriu”, referiu a actriz francesa sem hesitar. “Participei em vários castings com ele e isso durou algum tempo”. E recordou mesmo que “tinha de estar nua enquanto me penteava e ainda a recitar um poema. Acabei por não ser escolhida, mas ele criou uma personagem só para mim (a Juliette). Confesso que fiquei bastante emocionada, mas percebi depois que tinha sido uma ótima experiência. Ele ensinou-me algo de essencial”, rematou.
De referir que Je vous salue Marie é ainda hoje encarado como um dos filmes que mais polémica causou durante a nossa democracia. Em causa, a exibição do filme integrado no ciclo que a Cinemateca Portuguesa dedicou a Godard, em 1985. No entanto, o filme chegava com um perfume de escândalo desde a sua estreia em França, acabando por motivar o boicote promovido pelo então presidente da câmara de Lisboa, Krus Abecassis, com a ameaça que ficou célebre ao dizer que “escaqueirava tudo”. O filme acabaria por passar, com alguns arrufos e empurrões de manifestantes, embora sem grande dano.
Amanhã será a vez do nosso encontro particular para falarmos de Le Lycéen.