Farnaz Jurabchian é uma cineasta iraniana que vive atualmente entre Teerão, Toronto e Montreal. Embora a sua base seja Teerão, “pois é onde tudo está a acontecer”, como nos confessou na entrevista realizada em Melgaço, durante o MDOC, Festival Internacional de Documentário de Melgaço. Participou com o filme Silent House, vencedor do Prémio Don Quixote, para Melhor Longa Metragem.
Apesar do tema de Silent House ser muito distinto, é muito difícil não pensar numa certa homenagem à poestisa iraniana Forough Farrokhzad (1934-1967), autora do único filme The House is Black. Pelo menos, do ponto do elemento feminino daquela que é a casa da família de Farnaz Jurabchian (mas também do seu irmão Mohammadreza, co-realizador do filme) há mais de um século. Vive atualmente entre Terão, Toronto e Montreal.
Uma morada pertencente a uma das mulheres do Xá Reza Pahlavi, entretanto adquirida pelo seu avô, um abastado comerciante de Teerão. “Ela era a sua preferida”, conforme nos confessa Farnaz, em Melgaço. E onde confirma que terá sido esse o local onde ocorreu o encontro não oficial entre Roosevelt, Stalin e Churchill, os chefes de estado das potências vencedoras da 2ª Guerra Mundial.
“Pensámos na casa quando começámos o filme”, revela-nos. “É uma casa com mais de 100 anos. A casa esteve sempre a observar esta família. Tem um passado enorme. É quase como uma âncora do próprio Irão. E também uma testemunha. A certa altura no filme ouve-se “ai se as paredes pudesse falar…”
Da sua história anterior, relata-nos Faznaz que a casa foi alvo de um encontro histórico e secreto, no final da 2ª Guerra Mundial, em que o Xá recebeu Stalin, Churchill e Roosevert. “Mas como não foi oficial, não existe, fotos. Acho que apenas existe um retrato com os três junto a uma árvore”, diz.
A casa pertencia à 4ª mulher do Xá Reza Pahlavi. Faz nas sabe a história: “Ela a 4ª mulher, mas não ao mesmo tempo. Em todo o caso, segundo se sabe, era a sua favorita.” Por isso, o seu avô, na altura, um comerciante abastado, ficou fascinado com a história quando comprou a casa. “Viveram até debaixo do mesmo teto durante um ano. Ela vivia no 2ª andar e o meu pai no primeiro. E tinham uma ótima relação entre si. Pena é que não tirou fotografias dela.“
Tentamos fundir esse encontro com outros, pois são muitas as memórias que foram filtradas por diversas câmaras ao longo doa anos. “Desde cedo percebemos essa enorme herança; da casa, das coisas que lá existitam e do que lá se passava. E percebemos que deveríamos fazer algo com esse acervo. O meu avõ tirou muitas fotografias e fez filmes, tal como a minha mãe. Como tínhamos as câmaras em casa, e todo aquele arquivo. Sentimo-nos como arqueólogos à procura de artefactos.”
“De início, queríamos deixar que a casa falasse, depois que fosse a família a falar da casa; no final, eu e o meu irmão decidimos que a intenção deveria partir de nós próprios, por forma a analisar as diferentes gerações no contexto do Irão de hoje. Deveríamos criar um sentido a isso tudo”, sublinha. No entanto, Fernaz estava consciente de alguns riscos. “Ao mesmo tempo tínhamos de ter cuidado e considerar diversas coisas, devido à situação atual do país. Pois não sabemos o que vai acontecer. Sentimos que estamos sempre em perigo.”
Farnaz pertence “a uma geração mais nova que quer algo novo. Quer viver a sua própria vida”. Algo que considera muito importante, pois entende que “os jovens deveriam ser ouvidos em vez de confrontados.” A cineasta desenvolve atualmente um novo projeto com o irmão, com a particularidade de ser focado no Irão contemporâneo.
“Temos um apequena produtora no irão e produzimos os nossos próprios filmes. Temos um projeto sobre um iraquiano que veio para o Irão. É um fotógrafo de rua, com uma câmara antiga, que vai documentando o país que vemos hoje. E que nuca foi visto. Um outro ptojeto spobre uma pintora, oriunda de uma cidade onde é muito difícil as mulheres poderem expressar-se. Decidiu vir para Teerão e estudar o seu corpo enquanto artista iraniana. Ela cria um mundo imaginário no seu próprio estúdio.”