Dia 3
Sim, Nasceu uma Estrela. Na verdade, nasceram duas estrelas neste novo remake de um dos maiores clássicos do cinema americano, várias vezes revisitado, e exibido agora em estreia mundial no 75º Festival de Veneza (fora de competição) com o aplauso da imprensa. Isto de manhã, porque no final da tarde foi a vez dos fãs terem um banho de Lady Gaga ao vivo. Este é seguramente um dos veículos mais importantes da Warner para este final do ano. Depois de Venice, a equipa de Assim Nasceu Uma Estrela rumará para o festival de, antes da estreia mundial a 11 de Outubro, também em Portugal.
Não deixa de ser curioso como tanto Bradley e Gaga parecem trocar as suas personas neste filme. Ele ator consagrado dá-lhe a oportunidade de brilhar nesta mega-estrela do entertainment, estreando-se como atriz de vincado corte dramático. Ela, por se turno, permite-lhe exceder-se não só como ator, mas também como cineasta. Quem diria, há uns anos atrás, que aquele ator que entrou pela porta da frente com uma grande Ressaca, seria capaz de um trabalho desta magnitude?
A consequência? Bom, muito provavelmente a de ter em suas mãos um filme capaz de atrair múltiplas nomeações aos Óscares, incluindo, naturalmente, a componente interpretativa bem como o trabalho atrás da câmara. Aliás, à semelhança do que sucedeu com as anteriores versões, todas elas brindadas com várias nomeações.
Seja Janet Gaynor e Frederic March, no filme original de William Wellman, em 1937, ou ainda a mais celebrada versão de George Cukor, com Judy Garland e James Mason em 1955 (aquela que o realizador assume como referência principal a este filme), até Barbra Streisand, em 1976, no projeto de Paul Mazurski. Isto apesar de nenhum deles ter levado a cobiçada estatueta.
Foi então com a performance de Lady Gaga na mente e também o trabalho de Cooper na realização e composição que os abordámos no encontro com a imprensa que se sucedeu à projeção matinal. Cooper começou por agradecer as nossas palavras, afinal de contas dissera que tinham “nascido duas estrelas”, frisando que “o melhor que podemos fazer em termos de ‘storytelling’ é desafiar-nos ao ponto de aprendermos algo mais.” E que provavelmente “levaria horas a explicar” tudo aquilo que aprendera nesta experiência.
Na mesma nota, Lady Gaga, agora loira platinada de vestido branco, a fazer lembrar Marilyn, fitou-nos no olhar quando disse a tal frase: “eu sempre quis ser atriz!” Percebe-se porque o que vemos no ecrã acaba por caber naquele conceito de química artística. “Eu pude viver o meu sonho. Apenas precisava de alguém que acreditasse em mim. Tive muita sorte que fosse ele. Por isso tenho muita sorte em estar aqui”.
A história segue o fio original, sobre um artista famoso, Jackson Maine (Cooper), no pico da sua fama e dado a excessos; acaba por descobrir por acaso uma cantora (Gaga) num bar trans, mas que trabalhava como servente. Acaba por a promover, superar o seu trauma de ‘patinho feio’ e eventualmente envolver-se com ela. Como reza a história, acabará também por ser superado pelo nascimento desta nova estrela.
Pois é, nada de novo. Só que o poder do entretenimento e até a renovação desta história eterna permite que seja um blockbuster que atravessa mais público do que o costume. Valha-nos isso.