O CineEco é uma espécie de ‘case study’ no meio dos festivais de cinema. Pelo menos, naquela faixa que se dedica ao meio ambiente e ecologia. Mas não só. A longevidade do festival dirigido por Mário Branquinho – este ano a celebrar as suas bodas de prata! – e consistência galga fronteiras e afirma o evento que se realiza em plena na Serra da Estrela como “o mais antigo festival de cinema ambiental do mundo, único no género em Portugal”, como sublinha o press release com a programação que acaba de ser divulgado.
Por aí ficamos a saber que a 25ª edição do CineEco – Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela, uma iniciativa organizada pelo Município de Seia (e que conta com o Alto Patrocínio do Presidente da República e do Departamento de Ambiente das Nações Unidas), decorre entre os dias 12 e 19 de outubro em Seia. Um evento que acolhe também a segunda edição do Fórum Internacional de Festivais de Cinema de Ambiente, em parceria com a Green Film Network (GFN), entre os dias 12 a 14, isto depois da iniciativa pioneira que o ano passado juntou dezenas de diretores dos mais prestigiados festivais de cinema ambiental do mundo. “O Fórum consolida Seia como a cidade que chama até si a centralidade do debate internacional”, salienta Mário Branquinho, reforçando a forma como a iniciativa acentua “a importância dos festivais de cinema ambiental na consciencialização e na educação das populações”.
Nesta edição comemorativa, o elemento dominante será a Água, desde logo marcado pela exibição do espetacular filme Aguarela, do russo Viktor Kossakovsky, exibido o ano passado em estreia mundial no festival de Veneza e escolhido para a apresentação oficial do 25º CineEco a 21 de setembro. Ao longo de uma programação que conta com 80 filmes de vinte países, irão abordar-se alguns dos temas ambientais mais emergentes da atualidade, refletindo algumas questões emergentes e fraturantes da defesa planeta Terra.
Desde logo, os dez filmes que concorrem para o Grande Prémio Internacional Longas Metragens, onde encontraremos a atualização de algumas preocupações ecológicas, como o relato de uma sobrevivente de um desastre ecológico de lama tóxica, na Indonésia, provocado por escavações destinadas a encontrar gás natural, em Grit, de Cynthia Wade e Sasha Friedlander; bem como um olhar sobre os mistérios da natureza e do papel do Homem na Criação, em Genesis 2.0, de Christian Frei e Maxim Arbugaev; teremos ainda a visão pós-apocalíptica de Lost Reactor, de Alexandra Westmeier, a proposta onírica de uma vila sonhada de Alfonso Kint, em Soñando um Lugar,o convite para conhecer Iwaishima, uma ilha com a forma de um coração no sul do Japão, e a sua luta ambiental de três décadas contra a instalação de uma central nuclear em Le géographe et l’île, de Christine Bouteiller ou o testemunhar do manifesto cinematográfico de Cold lands, de Iratxe Fresneda; a programação oferece ainda a atualização do absurdo do mundo globalizado em Walden, de Daniel Zimmerman, a busca de uma família em manter viva a tradição do pastoreio em Sheep Hero, de Ton van Zantvoort, ou o percurso do caminho particular de Are you Sleeping, Brother Jakob?, de Stefan Bohun e ainda a reflexão sobre a Era do Antropoceno em L’Homme a Mangé la Terre, de Jean-Robert Viallet.
No destaque à produção portuguesa sublinha-se a presença de Hálito Azul, de Rodrigo Areias, um filme sobre o fascínio do mar inspirado na obra de Raul Brandão Os Pescadores, de 1923, bem como Amazónia, o Despertar da Florestania, de Christiane Torloni e Miguel Przewodowski, Understory, de Margarida Cardoso e Alva, de Ico Costa, sobre o contacto de um homem com a natureza depois de cometer um crime. A programação contempla ainda diversas curtas provenientes de portuguesas, Brasil, Moçambique e Cabo Verde, bem como o Panorama Regional e Competição de Documentários e Reportagens para Televisão.
(artigo publicado originalmente em julho de 2019, agora reeditado)