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MDOC Palmarés: ‘Four Seasons in a Day’ mostra o outro lado do Brexit e vence melhor documentário

No Taxi de Jack, de Susana Nobre, melhor documentário português. Nas curtas, vénia para a vencedora, Subtotals, do iraniano Mohammadreza Farzad, uma pequena preciosidade, tal como a menção honrosa para In Flow of Words, de Eliane Esther Bots.

No final do 8º MDOC interessará, talvez, sublinhar a tremenda experiência do cinema do real, mas sobretudo a possibilidade dos múltiplos encontros em Melgaço. Prova-se assim, como advogou Carlos Eduardo Viana, coordenador do MDOC, na nossa conversa, que mesmo um festival periférico pode elevar a motivação para superar todas as fronteiras. Um resultado que se revela uma experiência tremenda, e com um alcance mais amplo que tantos eventos de “passadeira vermelha”. Mas vamos aos prémios.

Four Seasons in a Day, de Annabel Verbeke, foi considerada a melhor longa metragem documental do 8º MDOC, sublinhando um curioso e fascinante relato sobre o efeito de fronteira – um dos temas do festival ‘identidade, memória e fronteira’ -, ao relatar as interrogações de diversos elementos de uma comunidade irlandesa na eminência do impacto do Brexit. Na sua menção, o júri oficial constituído pela professora espanhola Aida Vallejo, a polaca, também docente, Anna Huth, o crítico português Carlos Natálio, o cineasta mexicano Juan Pablo Gonzalez e a germânica Marion Schmidt, co-directora da Documentary Association of Europe (DAE), destaca “um caleidoscópio inesperadamente comovente sobre pertença, identidade e a ameaça do grande desconhecido é muito mais do que um filme sobre o Brexit. Um retrato bem-humorado, leve e subtil sobre um povo preso entre fronteiras invisíveis e visíveis”.

‘Subtotals’, a Melhor Curta documental

É difícil ficar indiferente ao enorme potencial do cinema iraniano. Desta feita, com a belíssima curta Subtotals, de Mohammadreza Farzad, vencedora do Prémio Jean Loup Passek para Curta Metragem de Documentário, isto depois de já ter sido exibida na Berlinale, Fórum Expanded. Em menos de um quarto de hora somos convidados a penetrar num mundo de pequenas interrogações, confissões e perplexidades, muitas vezes contabilizadas, ilustradas através de ‘home movies’, de momentos e vidas em tempos idos no Irão. Nesta construção de momentos de uma vida feita de escolhas, de pedaços de tempos, considerou o júri “um  estudo poético e assombroso sobre a vida, o amor e os mistérios do tempo; uma meditação existencial composta por filmagens caseiras de 8 mm que nos dão um vislumbre da vida das pessoas comuns.” Sim, uma pequena obra-prima.

Obrigatória a menção honrosa para In Flow of Words, de Eliane Esther Bots, pela forma como aborda o trauma das atrocidades e selvajaria cometidas em Srebrenitsa, durante a guerra da Bósnia, pelo curioso ponto de vista dos depoimentos das vozes compostas de tradutores do tribunal internacional. Tudo feito com uma meticulosa composição pela cineasta holandesa. Em certa medida, uma linha áudio que estabelece uma curiosa comunhão com Subtotals. E que faz tem neste par de curtas duas gemas do cinema do real.

O cinema documental português esteve bem representado em Melgaço. Desde logo, com vários filmes já um assinalável percurso internacional. Como No Taxi do Jack, de Susana Nobre, vencedor do prémio dedicado ao documentário nacional, um olhar sobre o desemprego e a burocracia em Portugal. Tal como o pungente documento de investigação de Miguel DoresAlcindo, sobre o racismo em Portugal, galardoado com uma menção honrosa. Sérgio Tréfaut já nos havia aproximado ao seu Paraíso e às serenatas melancólicas no jardim do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, tal como a impressionante Viagem ao Sol, de Susana de Sousa Dias e Ansgar Schaefer, às crianças forçadas a abandonar o seu país durante a guerra, ou a ligação particular de emigrantes portugueses com os seus automóveis, esclarecida em Via Norte, de Paulo Carneiro, sem ignorar a singularidade da comunidade juvenil de Águas de Pastaza, de Inês T. Alves. Descobrimos ainda o valioso documento de Sabrina D Marques, Fotocines, sobre o serviço de captação de imagens durante a guerra nas colónias portuguesas, e ainda a fascinante descoberta de Nous Sommes Venus, de José Vieira, explicando a ligação umbilical entre a emigração portuguesa e do norte de África, igualmente um dos melhores filmes no 8º MDOC.

Nous Sommes Venus, de José Vieira

E, porque um festival não são apenas os filmes, ficam, seguramente, anotados os eventos paralelos, tanto o Plano Frontal como o Fora de Campo, bem como as oficinas, exposições, passeios, que fizeram do MDOC um evento marcante para uma proximidade com o cinema documental. Mesmo em tempo de férias.

PALMARÉS MDOC 2022

PRÉMIO JEAN-LOUP PASSEK PARA MELHOR CURTA METRAGEM DE DOCUMENTÁRIO

Subtotals, de Mohammadreza Farzad

Menção Honrosa
In Flow of Words, de Eliane Esther Bots

PRÉMIO JEAN-LOUP PASSEK PARA MELHOR LONGA METRAGEM DE DOCUMENTÁRIO
Four Seasons in a Day, de Annabel Verbeke

PRÉMIO JEAN-LOUP PASSEK PARA MELHOR DOCUMENTÁRIO PORTUGUÊS

No Táxi de Jack, de Susana Nobre

Menção Honrosa
Alcindo, de Miguel Dores

PRÉMIO JEAN-LOUP PASSEK PARA MELHOR CARTAZ DE CINEMA
Comezainas, de Mafalda Salgueiro

Menção Honrosa
Sycorax, de Lois Patiño e Matías Piñeiro, Designer: Dani Sanchis

PRÉMIO D. QUIXOTE PARA MELHOR CURTA METRAGEM DE DOCUMENTÁRIO
In Flow of Word, de Eliane Esther Bots

PRÉMIO D. QUIXOTE PARA MELHOR LONGA METRAGEM DE DOCUMENTÁRIO
Heza, de Derya Deniz

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