Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo leva quase tudo, enquanto a modesta produção de Ice Merchants nada pode diante dos colossos globais. Numa noite que teve ainda o seu momento político, com a vitória de Navalny na categoria de melhor documentário.
Sim, a Oeste nada de novo. Ou seja, tudo em todo o lado ao mesmo tempo. As frases que por acaso até pertencem aos dois filmes que mais prémios arrecadaram (sete para Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo e quatro para A Oeste Nada de Novo), bem poderiam descrever, pelos respetivos títulos, o que se passou na desencantada noite dos Óscares.
Uma cerimónia sem surpresas, com filmes pouco palpitantes e vistos por poucos. Sendo que o registo confessional de Steven Spielberg Os Fabelmans, saiu da noite sem qualquer reconhecimento, tal como Tár, o drama musical de Todd Field, ou Elvis, gorando as suas oito nomeações. E, claro, Ice Merchants, de João Gonzalez, incapaz de afirmar a singeleza lusitana diante da potência dos colossos globais.
A rotina malsã de dividir as estatuetas pelos filmes mais nomeados cumpriu-se em Los Angeles. Talvez a maior excepção tenha dito mesmo a memória da agressão em direto do ano passado, no ato tresloucado de Will Smith, com o humor provocador do guião seguido pelo apresentador Jimmy Kimmel, que ousou mesmo proferir a provocação: “se alguém cometer um acto de violência, recebe um Óscar de Melhor Actor”. É mais ou menos isto. E está tudo (quase) dito.
Não será bem assim, pois apetece refletir no que realmente esteve em jogo na cerimónia dos Óscares de 2023. Talvez dizer que é a confirmação do cinema de alto consumo que imperou num conjunto de selecionados a pressupor que o espetador reage de acordo com a fórmula previamente desenhada. Seja na exploração da ideia do ‘multiverso’ (Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo) ou a repisar a fórmula desinspirada dos remakes (Top Gun Maverick, Avatar – o Caminho da Água ou Black Panther).
Melhor Filme, Realizador, Actriz e secundários, além de montagem e guião original. Assim se escreve a história de Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo. Resta-lhe agora a carreira da consagração. Em todo o lado e ao mesmo tempo.
Palmarés
Filme – Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo
Ator – Brendan Fraser (A Baleia)
Ator Secundário – Ke Huy Quan (Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo)
Atriz – Michelle Yeoh (Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo)
Atriz Secundária – Jamie Lee Curtis (Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo)
Melhor Argumento Adaptado – Women Talking (Sarah Polley)
Melhor Argumento Original – Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo
Animação – Guillermo del Toro’s Pinocchio, Guillermo del Toro, Mark Gustafson, Gary Ungar e Alex Bulkley
Fotografia – A Oeste Nada de Novo
Guarda-Roupa – Black Panther: Wakanda Forever
Realização – Daniel Kwan and Daniel Scheinert (Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo)
Melhor Documentário – Navalny – Daniel Roher, Odessa Rae, Diane Becker, Melanie Miller e Shane Boris
Montagem – Paul Rogers (Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo)
Melhor Filme Estrangeiro – A Oeste Nada de Novo
Maquiagem & Penteados – A Baleia
Banda Sonora – A Oeste Nada de Novo
Música Original – Naatu Naatu, RRR
Cenografia – A Oeste Nada de Novo
Melhor Curta Metragem (Documental) – The Elephant Whisperers
Melhor Curta Metragem (Animação) – The Boy, the Mole, the Fox and the Horse
Melhor Curta Metragem (Ficção) – An Irish Goodbye
Som – Top Gun: Maverick
Efeitos Visuais – Avatar