Sábado, Abril 19, 2025
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A Princesa e o Sapo: John Musker e Ron Clements

Paulo Portugal, Londres

Chegou finalmente às nossas salas a mais recente animação musical da Disney, que inverte a adaptação do famoso conto de Grimm, transformando em sapo, não o príncipe, mas uma rapariga negra de Nova Orleães (voz original de Anika Noni Rose) que terá de ser beijada pelo verdadeiro Príncipe Naveen (com voz original do brasileiro Bruno Campos). Este resultado que acaba por ser nomeado para o Oscar de Melhor Animação, para além de ver dois temas de Randy Newman igualmente distinguidos, sobreviveu a diversas fases de gestação, durante quase duas décadas, até que a dupla John Musker e Ron Clements apresentou a sua versão definitiva, num celebrado regresso à animação 2D. O resultado é visualmente vibrante e altamente satisfatória a evocação do ritmo “jazz”, “gospel” e “cajum” da Nova Orleães dos anos 30.

encontrou-se com a dupla criativa no Soho Hotel, em Londres, e confirmou que o futuro da animação não abandonará o lado mais tradicional. E que foi precisamente John Lasseter, qual príncipe encantado, a dar o beijo que a ressuscitaria. Walt Disney ficaria agradecido.

Porquê tanto tempo até ao desenvolvimento definitivo de “A Princesa e o Sapo”?

John Musker – De forma algo surpreendente, este projecto esteve em desenvolvimento nos estúdios Disney há 18 anos. Em diferentes versões desde o tempo de “A Bela e o Monstro”. Até a Pixar desenvolveu ideias para a mesma história em animação computorizada, numa versão durante os gangues de Chicago dos anos 30. Curiosamente, foi o próprio John Lasseter quem decidiu localizar a história em Nova Orleães, a sua cidade predilecta. Só quando o Ron e eu regressámos à Disney há 3 anos e meio, com Lasseter já à frente do estúdios, que nos pediu para rever essas versões e avançar com uma ideia. Foi aí que nasceu esta versão musical em ambiente afro-americano.

Não deixa de ser interessante ser o John Lasseter a impulsionar este projecto que poderá revitalizar a animação tradicional…

JM – É verdade, já quase dávamos por extinto o cinema de animação tradicional. O Michael Eisner tinha-lhe virado as costas e a própria administração da Disney estava inclinada a abandonar definitivamente a animação tradicional.

RC – Muita gente afirmara que a animação tradicional estava acabada. Nós apenas pensámos que estivessem mortos, mas na forma como algumas personagens Disney, como a Branca de Neve, estavam mortas. Possivelmente, apenas à espera que um príncipe as viesse trazer à vida. Nesse sentido, John Lasseter foi o príncipe que beijou a animação tradicional e lhe deu vida nova. Ele teve a ousadia e a paixão de a trazer de volta para o agrado de muitos animadores que o desejavam. Felizmente, gosta tanto da animação desenhada à mão como nós, independentemente de todo o sucesso com a animação por computador.

Nota-se em aqui um estilo de animação muito próximo à animação mais clássica da Disney. Foi uma opção intencional?

RC – Esteve sempre presente a intenção de regressar ao tipo de animação tradicional da Disney. Nesse sentido, os filmes que mais nos inspiraram foram “Bambi” e “A Dama e o Vagabundo”, tanto do ponto de vista do desenho das personagens, como dos cenários. “A Dama e o Vagabundo” mais para as cenas de Nova Orleães e “Bambi” para as cenas do Bayou. Mas acaba por existir semelhanças entre ambos.

Que elementos da Disney clássica mais os interessaram?

RC – Interessou-nos sobretudo a ideia de pedir desejos às estrelas, o tipo de vilões, mas também todo o lado musical. Tudo devidamente acompanhado por um pequeno “twist”.

 
John Musker e Ron Clements na Comic-Con 2009

Percebe-se que trabalham bem em conjunto. Como descreveriam o vosso trabalho, que vai da elaboração do guião à realização?

RC – No fundo, é um prolongamento do que fizemos em “A Pequena Sereia” e “Aladdin”.

JM – Escrevemos o guião em conjunto, mas como fazemos várias versões, eu acabo por improvisar algumas cenas, já o Ron é muito bom a desenvolver a estrutura da história, unindo as diferentes partes. Acaba por dar a essa ideia o tratamento em mais de cem páginas. Depois eu vejo esse material e tenho a minha reacção. Finalmente, quando entramos em produção, dividimos o filme em diferentes sequências. Eu faço algumas e o Ron faz outras. Depois, dirigimos as vozes dos actores, o trabalho dos animadores, o estilo de cor a usar. Por fim, somos responsáveis por sequências diferentes. Por exemplo, eu supervisionei a cena musical do vilão Facilier, ao passo que o Ron foi responsável pela cena musical da Mama Odie e da Tiana. Acabamos por ter áreas diferentes dentro do filme, mas sempre com um trabalho complementar no fim, com a música e a cor.

Sabiam desde o início que queriam trabalhar com o Andreas Deja?

JM – Sim, sim. Tal como em quase todos os filmes que fizemos. Ele é um excelente animador e claro que queríamos tê-lo a bordo neste filme.

RC – Começámos a trabalhar com ele em “Papuça e Dentuça”. Já trabalhámos com vários animadores, mas claro que temos os nossos favoritos.

JM – Mas como há tantos filmes a fazer ao mesmo tempo, nem sempre é possível ter os animadores que queremos.

RC – Também muitos animadores tinham já passado para animação em computador. Felizmente, quase todos quiseram regressar à animação tradicional neste filme, porque gostam. Isso permitiu-nos ter uma espécie de “dream team”. Tanto de animadores, como de efeitos especiais, de cenários. Uma equipa muito forte.

O casting parece ter sido outro “dream team”. Anika Noni Rose, Terrence Howard, Oprah Winfrey… Foram as vossas principais escolhas?

JM – Como queremos ter sempre os mesmos actores a cantar e a fazer a voz, fizemos logo esses testes. Esse é sempre uma parte divertida do casting. O mesmo se passa com a Pixar. Para o John Lasseter não quisemos mostrar grandes estrelas, mas os melhores actores para cada voz.

Foi difícil de convencer a Oprah a cantar?

JM – (risos) Não foi nada difícil.

RC – Mostrámos-lhe a história numa primeira fase, para ela ter uma ideia. Por outro lado, é uma personalidade afro-americana muito importante. Adorou a história e queria fazer uma voz. Está óptima como a Eudora, a mãe de Tiara. E também o Terrence Howard para contracenar com ela.

Há mais ideias a germinar na Disney para uma nova animação no sentido mais tradicional?

JM – Sim, claro. Só que isso pode durar três ou quatro, que é a média de um filme de animação.

RC – Talvez daqui a três anos…

Há portanto futuro para a animação clássica!

JM – Sim, achamos que sim. É esse o nosso objectivo e a nossa esperança.

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Anna Kendrick: “Sou muito mais tímida na vida real”

Paulo Portugal, em Londres

Depois dos Globos de Ouro, acaba de ser nomeada para os prémios BAFTA (prestigiado galardão da indústria britânica). E poucos duvidam que será uma das eleitas para os Óscares. Depois de contracenar com Robert Pattinson em ‘Crepúsculo: Lua Nova’, tenta “despedir” George Clooney em ‘Nas Nuvens’. Falámos com esta revelação em Londres.

Como reagiu ao facto de saber que um realizador já nomeado para um Óscar (Jason Reitman) escrevera um papel especialmente a pensar em si?

Ainda bem que não me disse nada antes da minha audição, pois possivelmente teria ficado demasiado confiante. Só soube depois de conseguir o papel. Quando fomos almoçar e me revelou que pensara em mim ao escrever o guião, imagine como fiquei… Mas tentei fazer o meu ar mais blasé, como se isso fosse esperado… [risos]

Qual foi a cena que o Jason escolheu para o seu teste?

Foram duas cenas. Primeiro, aquela em que o George (Clooney) me pede para que o tente despedir; a outra foi também com a Vera (Farmiga), em que conversamos sobre o que esperamos dos homens.

O que gosta mais a atraiu na sua personagem?

Gosto do facto de ela ser assumidamente ambiciosa; gosto das tentativas que faz em mostrar-se forte quando na verdade não é. Há uma certa tendência para as mulheres serem suaves e submissas, mas gosto desse perfil enérgico. Ainda que, no início, possa aborrecer os espectadores.

Sente-se mais próxima desta mulher ambiciosa ou da estudante de ‘Crepúsculo: Lua Nova’?

A verdade é que sou muito mais tímida na vida real. Por isso, é bom ter a oportunidade de interpretar alguém que grita com o George Clooney. Ao mesmo tempo, também nunca fui o tipo de rapariga popular, nem ‘mean girl’ no liceu. Por isso, também não me posso relacionar com essa faceta de ‘Crepúsculo’. Mas acho que é por essa razão que entramos para esta profissão.

Pode dizer-se, ao menos, que é ambiciosa quando se trata da sua carreira?

Não. Quero ter sucesso, mas a ambição implica um desejo pro-activo de ‘ser melhor do que’… No meu caso, desde o primeiro dia que apenas quero fazer bons filmes. Não tenho qualquer trajectória de ter uma carreira definida.

No entanto, li na Wikipedia que aos dez anos fez os seus pais viajarem de Portland para fazer audições em Nova Iorque. Não me diga que não tem uma mente bastante decidida…

Sim, mas suponho que o objectivo é o trabalho. É verdade que eu sabia o que queria…

Mas, aos dez anos?!

Bem, tive a sorte de ter pais que sempre me apoiaram. Sei que quero trabalhar, mas não imagino exactamente o que posso esperar. Por exemplo, estar na passadeira vermelha no meio dos gritos dos fotógrafos pode ser divertido, mas não é seguramente isso que imaginamos aos sete anos…

Li também no Twitter…

On, não, lá vem o Twitter me amaldiçoar… [risos]

Lembro-me que falava em ‘red carpet madness’, era isso?

Sim, em Toronto (no festival, em Setembro passado) foi muito intenso também. Mas o pico da loucura foi quando fiz a promoção para ‘Crepúsculo’. Mas é claro que é diferente quando se é o protagonista…

O que sente ao fazer parte de toda esta loucura de adolescentes a gritar para as estrelas de ‘Crepúsculo’?

Para mim, isso não deixa de ser uma experiência e essa histeria acabará por ter algum significado. Mas, felizmente, tenho a opção de sair desse carrossel, ao passo que os protagonistas não têm.

É uma sorte então não ser a Kristen Stewart…

A sério, ela está a lidar com algo que muita gente nunca saberá o que é. Felizmente ela é tem maturidade suficiente para lidar com tudo isso, mas não deixo de me sentir afortunada por não ter de lidar com toda essa carga.

É interessante como, em pouco tempo, Anna contracenou com dois dos homens mais desejados do momento [George Clooney/Robert Pattinson]… Isso não é para todas.

Mas como não os vejo desse modo, é como ter primos com que as minhas amigas gostariam de dormir… É assustador! Toda a gente quer saber coisas sobre o meu primo bonzão e isso deixa-me louca (risos).

Não diga que não sentiu nada quando conheceu o George pela primeira vez…

É claro que não dá para não ficar um pouco sem jeito… É o homem mais charmoso do planeta. Por exemplo, cinco minutos depois de me conhecer já estava a fazer piadas sobre o meu cabelo…

A verdade é que poucas pessoas poderão dizer que tentaram despedir o George Clooney…

Despedir o George?! Ah, sim, a cena do filme. Sim, é verdade [risos]…

Como reage à sua possível nomeação para os Óscares. Isso aumenta a responsabilidade?

É algo inacreditável,devo dizer. São aquelas palavras que nunca esperamos ouvir. Mas é bom, porque significa que as pessoas gostaram de ver o filme ou gostarão de ir vê-lo. Se se falar mais e se as pessoas foram ver o filme isso é óptimo.

Mas este é , sem dúvida, um belo trabalho da sua parte.

Gosto imenso do filme e já me sinto satisfeita só por poder participar.

Iremos vê-la no quarto episódio da saga?

Não creio, pois a minha personagem não está no livro.

O George Clooney deve ser a pessoas que melhor lida com toda a histeria em redor das figuras públicas. Alguma vez lhe deu alguma dica?

Nunca falámos sobre isso, mas é bom ver uma pessoa tão famosa a experiente a ser tão carinhosa com as pessoas. Isso dá-nos alguma esperança: se o George Clooney pode ser carinhoso, então acho que não há desculpas para ser de diferente.

É também uma passageira frequente?

Sim, mas sou terrível. Aliás, estou sempre à espera de ser reconhecida no aeroporto por um segurança que irá comprovar que sou muito semelhante à minha personagem no filme. Acho que quando accionar o alarme alguém se vai lembrar que sou ‘aquela rapariga do ‘Nas Nuvens”…

PERFIL

Aos 24 anos, este jovem de Portland confirma o talento de actriz inteligente e, seguramente, uma das que mais rápido fala. Uma qualidade bem patente em ‘Rocket Science’ (2007), o filme em que o realizador Jaosn Reitman a descobriu. Depois de ‘Crepúsculo – Lua Nova’ (2009) e ‘Nas Nuvens’ (2010), vê-la-emos ainda este ano em ‘Eclipse’, na sequência da franchise ‘Crepúsculo’ e ainda nas comédias ‘Scott Pilgrim vs. The World’ e ‘I’m With Cancer’.

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Lars von Trier enfrenta a cura para a depressão

Foi a quente, após as malditas sessões em Cannes, onde o filme  foi pateado e aplaudido. Uma forma de terapia, talvez. O dinamarquês assume a depressão e as práticas “shamanistas”- “É o LSD sem LSD!”, diz. A verdade é que tirou de Charlotte Gainsbourg a sua melhor interpretação de sempre e o respetivo prémio no festival. Um fenómeno de culto, isso sim. 

O casal entrega-se totalmente à cena muito física de sexo. Na sala ao lado, o bebé, curioso, investiga. O calor aumenta e o bebé trepa à cadeira. Dá-se o orgasmo e o bebé tomba da janela. Corte! O genérico chama-lhe ‘Anticristo’. O que se segue será um calvário retirado de uma tela de Brueghel ou Bosch ou um lamento de Munch. As referências são dele, mas revêem-se no filme. Atravessá-lo significa acompanhar o calvário e a purga interior. Sim, há imagens canalhas, de virar a cara. Mas também a mais pura emoção de ver um cinema que nos move e comove. Odeia-se ou entranha-se. Não há meias tintas.

Tinha-me preparado para a entrevista mais difícil, pois a fama de realizador duro com o entrevistador precedia-o. Puro engano. Lars parecia um cordeiro envergonhado após a valente depressão. E a mãozinha ainda tremia. O que vale é que disse tudo. Pelo menos.

O Lars referiu que a intenção de fazer este filme surgiu após um período de depressão. Qual a razão de colocar essa depressão no papel de uma mulher, a personagem da Charlotte Gainsbourg?

Sim, isso é verdade. Mas acho que fiz sempre isso em todas as minhas personagens femininas. Nos meus filmes, os homens tendem a ser estúpidos e dominadores (pausa)… Para mim, o percurso dela foi natural. E o retiro dele (a personagem de Willem Dafoe) foi algo que fiz há alguns anos.

O filme é bastante forte e tem algumas cenas particularmente chocantes. Acha que esta será a versão que veremos no nosso país?

Não lhe posso prometer isso. O que está no meu contrato é que se houve censura terá de ser mencionada. No entanto, muitos mais países do que supunha irão mostrar a versão original.

Estava à espera que o título ‘Anticristo’ tivesse um fundo mais religioso, mas não é isso que sucede…

Acho que gostei do título (risos)… Tive a oportunidade de fazer algumas viagens “shamanísticas” que me deram os animais que vemos e algumas imagens estranhas…

…disse viagens “shamanísticas”?

Sim, é algo que se fazia em comunidades hippies, mas é também uma tradição em algumas comunidades primitivas. Existe um shaman, uma espécie de médico espiritual. Supostamente, viaja ao ritmo de um tambor a um universo paralelo onde se encontra com as profecias. O curioso é que se trata sempre do mesmo ritmo do tambor. Eu fiz essas viagens algumas vezes em transe. É extremamente divertido. É uma espécie de LSD, mas sem LSD. É muito esquisito. E legal.

Porque se sente mais à vontade com personagens femininas?

Digamos que é mais fácil parodiar o sexo oposto. Por outro lado, sempre me senti mais feminino, no sentido de que era muito sensível. Não sei bem porquê… Talvez porque o Carl Dreyer fez muitos filmes com personagens femininas. Comigo funciona bem. Normalmente, temos uma boa relação com as actrizes.

Durante este processo criativo que tipo de obstáculos enfrentou?

Foi um momento pouco típico, pois senti-me sem poder. Estava presente apenas de uma forma física. Em circunstâncias normais teria construído uma plataforma para o filme. Desta vez não aconteceu. Foi bastante duro e houve muitas coisas que não consegui fazer. Por exemplo, não consegui segurar a câmara, tremia demasiado. Foi um pouco humilhante.

Estava com uma depressão, mas também doente do ponto de vista físico…

Sim, neste tipo de depressão estamos mesmo doentes. Quando olho para aquilo que escrevi na altura nem consigo decifrar.

Disse que os homens são normalmente mais agressivos, mas neste caso, é a Charlotte quem é mais violenta. Concorda?

O que é que posso fazer, gosto dela!… (risos) Acho que se percebe que, em tempo, maltratou a criança. Muitas mulheres não conseguem ser mães. Mas é verdade que puxei a Charlotte a fazer um papel mais duro. Acho que a culpa é muito importante na maternidade. Há mulheres que já não querem ter sexo com os maridos, pois a relação com os filhos tornou-se mais importante. A maternidade, o sexo e a morte são temas que andam aqui de mãos dadas. Talvez por isso, acho que a consigo compreender.

A própria Charlotte disse que o Lars conseguiu que ela não se impusesse a qualquer limite. Como conseguiu que fizesse essas cenas tão explícitas?

E ela até é bastante tímida. Eu cheguei a dizer-lhe: “como é que consegues masturbar-te na floresta sendo tão tímida”, ao que ela me respondeu: “isso querias tu saber!” (risos)

Mas como foi que a sugestionou a esse ponto?

Acho que a apoiei. As mulheres têm algo biológico que as faz manterem-se imutáveis nas sua decisões. Desde cedo, ela decidiu que queria fazer o filme. Acreditava no projecto e em mim. Por isso, avançou. Trabalhar com actores masculinos é mais difícil, porque haverá sempre uma necessidade de controlar. A minha experiência com actrizes é que confiam em mim.

Ela disse que você a colocava um pedestal… É verdade?

Sendo eu próprio uma mulher, tenho de dizer que sim… (risos) A sério, não sei o que foi. Apenas tento sobreviver.

Quer falar um pouco das suas influências visuais para o filme?

É verdade que me inspiro em várias coisas e na maior parte dos casos, não sei dizer onde as roubei. É claro que o Edward Munch faz parte da minha educação. Mas também o Brueghel, o Bosch… Não podemos fazer nada que não tenha sido inventado.

E parece-me que tem também algumas influências de contos de fadas. É algo que gosta?

Detesto contos de fadas! Na Dinamarca, estamos sempre a ouvir falar no Hans Christian Andersen. Ele era um idiota tão vaidoso, parece que queria conhecer o rei e a rainha e viver no campo. Mas a verdade é que passava os dia a masturbar-se… (risos)

(gargalhadas!!!)
Aliás, essa é talvez a única coisa que respeite nele. Acredito que muitos verão nele uma série de outras qualidades…

Como reage ao facto de muita gente ter abandonado a sala e rir-se no meio da projecção do seu filme?

Já assisti a projecções de filmes de terror em que toda a gente se ri. Isso é normal e não quer dizer que alguém se sinta ofendido pelo filme. Mas há outras formas de riso que se trona mais hostil. Sobretudo de pessoas que decidiram odiar o filme desde o início. De certa forma, isso abala-me. Projectar um filme é como convidar alguém a nossa casa. Mas eu já fui mais duro. Por exemplo, quando mostrei aqui em Cannes O Elemento do Crime, em que três quartos das pessoas abandonaram a sala. Nada disso me afectou.

Isso afecta-o agora de uma forma negativa?

Não, por princípio, acho que um filme pode e deve dividir as pessoas. Mas como indivíduo não posso deixar de me afectar um pouco.

De certa forma deseja ser amado pelo público, é isso?

Sim, é isso. E é uma fraqueza. Mas não tão grande que possa influenciar o filme.

Publicado na revista GQ, Janeiro/Fevereiro 

 

Jason Reitman: “A Personagem do George Clooney foi inspirada em mim”

Paulo Portugal, em Londres
O vencedor do Globo de Ouro para o Melhor Guião, partilhou com o Jornal i, no dia em que fez 32 anos, a sua vontade imensa de evasão. Isto apesar da euforia provocada em redor da comédia dramática “Nas Nuvens” – primeiro com os Globos de Ouro e, em breve, com os Óscares -, o obrigarem a ter os pés bem assentes na Terra. Um grande filme para ver, a partir desta quinta-feira, nas salas de cinema
A história de um homem que ganha a vida a retirar aos outros o seu emprego foi considerada a melhor pelos membros da imprensa estrangeira radicados em Hollywood, atribuindo-lhe o respectivo Globo de Ouro. Na conversa que teve com o i, em Outubro passado, durante o BFI Festival de Cinema Londres, Jason Reitman mostrou de onde lhe vem essa verve criativa, o estilo espevitado e o olhar certeiro na escolha dos actores com quem trabalha. Foi assim com Aaron Eckhart (“Obrigado Por Fumar”), nomeado para um Globo de Ouro (2005), Elen Page (“Juno”), nomeada para um Globo de Ouro e Óscar (2008) e também com o trio George Clooney, Vera Farmiga e Anna Kendrick em “Nas Nuvens”, ambos nomeados para os Globos e já prometidos para os Óscares.
No filme que agora estreia, George Clooney faz mais do que interpretar a personagem de Ryan Bingham, um executivo de uma agência que se encarrega do “trabalho sujo” de despedir funcionários, assegurando-lhes até que essa é “uma oportunidade” de alcançar novos voos. Em tempos de crise, aumenta na mesma proporção o trabalho de circular entre aeroportos e acumular chorudas milhas no cartão de passageiro frequente. É prercisamente “nas nuvens” que conhece Alex (Vera Farmiga), uma “alma gémea” com quem combina encontros amorosos. É até ela quem o declara: “Eu sou como tu, só que com uma vagina”… Só que essa vida privilegiada está prestes a ser abalada com a evolução “via internet” do sistema de despedimentos propostos pela jovem ambiciosa Natalie (Anna Kendrick, a mostrar que é uma autêntica força da Natureza), decidida a fazer carreira e a superar o “velho”.
Uma coisa é certa, ao terceiro filme, Reitman (filho do também realizador Ivan Reitman) é inegavelmente um dos nomes que mais promete na parte da indústria americana não apenas vocaionada para fazer “blockbusters” sem alma.
Foi no elegante Hotel Mayfair, no coração do bairro mais elegante da capital britânica, que cumprimentámos um sorridente e descontraído Jason Reitman. De barbinha rala, camisa de flanela de xadrês enrolada até aos cotovelos e um rasgado sorriso nos lábios. De facto, o homem tinha boas razões para sorrir: o filme fora recebido com furor na antestreia realizada num cinema de Leicestrer Square. Não poderia ser uma melhor prenda de anos…
i – Parabéns Jason. Mas que ideia esta de obrigarem a falar à imprensa no dia do seu aniversário…
Jason Reitman – Pois, tem toda a razão (risos). Mas, sabe, já tive a melhor prenda de anos – tomei o pequeno-almoço com os Chemical Brothers. Foi muito cool. Portanto, já ganhei o dia…
Concordo. Bom, olhando para os seus três filmes, percebemos que abordam, de uma forma só aparentemente ligeira, questões morais importantes. Foi o caso da gravidez juvenil (“Juno”), o acto voluntário de fumar – que chega a ser tabu nos EUA (“Obrigado por Fumar”) – e agora o distanciamento pessoal e o desemprego em “Nas Nuvens”. É um instinto seu abordar a sociedade dessa forma?
Não, não é importante. Eu é que gosto do lado truncado da vida. Por uma razão qualquer que desconheço, sou atraído por esses temas. Aborrece-me quando leio guiões que não têm substância ou não têm um tema; por outro lado, quando leio algo que me desafia, ou que desafia a forma como as pessoas pensam, isso já me entusiasma. Por exemplo, interesso-me muito mais depressa por temas de religião ou questões raciais. Abordo muito mais depressa um tema que divida as pessoas, do que propriamente crie consensos. Por exemplo, nunca farei uma comédia romântica. Acho que não tenho nada a dizer sobre isso.
É verdade que levou algum tempo – alguns anos mesmo – a escrever o guião. De que forma a recessão económica alterou o que escrevera?
Bom, o livro é sobre um tipo de despede pessoas como modo de vida. Por isso já vê. Isso fazia-lhe parte do sangue da personagem. No entanto, o meu guião é bastante diverso do livro. Para ter uma ideia, a Alex (Vera Farmiga) não está no livro, a Natalie (Anna Kendrick) não está no livro, os despedimentos online não estão no livro, as fotografias de viagem falsas não estão no livro, o discurso da mochila não está no livro…
Mas o que está então no livro?…
O livro é sobre um tipo que anda de cidade em cidade a despedir pessoas e acumula milhas de forma obsessiva. Filosoficamente, ele quer viver sozinho e andar de avião. De aeroporto em aeroporto. Eu gosto disso. Pessoalmente, foi um espaço e um tempo que me permitiu abordar questões complexas sobre a minha própria vida. De certa forma, eu criei a minha própria história. Os despedimentos estiveram sempre lá, mas o livro foi escrito no ano 2000, no pico no boom económico. De forma algo paradoxal, a recessão criou um tornou o tema muito mais interessante.
Durante o seu processo de escrita do guião, chegou a ter dúvidas do que estava a escrever?
Sim, tive dúvidas sérias. Mas acho que isso será comum a muitos escritores – terem dias em que pensam que são génios e outros em que não merecem segurar numa caneta. Isso sucede comigo: às vezes chego a pensar que sou o maior contador de histórias, como achar que preferia morrer agora antes de fazer um filme mesmo bera.
É verdade que usou verdadeiros desempregados nos depoimentos que vemos a certa altura no filme?
Sim. Tudo partiu de uma ideia inicial de fazer um documentário sobre o desemprego. Coloquei um anúncio no jornal a pedir depoimentos e fotografias de pessoas desempregadas e lá fui recebendo o material. Numa primeira fase, essas cenas foram escritas com um sentido cómico, do tipo de humor que usei em “Obrigado por Fumar”, num estilo de sátira corporativa; entretanto passámos de um boom económico para a maior recessão de que há memória.
Foi complicado passar da fina ironia para o registo mais realista e dramático?
Não. O outro filme nunca seria tão sofisticado. Olho agora para “Obrigado Por Fumar” e fico orgulhoso do que fiz, mas não está muito bem feito, pois foi o meu primeiro filme. Agora cresci e amadureci como realizador e mais complexo enquanto ser humano.
Como partiu para uma abordagem do papel ao George Clooney? Confirma que foi um passo ousado da sua parte…
Sim, pode ter sido, aliás, foi mesmo. Mas a verdade é que ele adorou a história. Foi demasiado simples. Leu, gostou e declarou: “contem comigo”
Como foi esse encontro?
Foi engraçado, porque nessa altura eu estava em Itália e ele convidou-me para o visitar na casa do Lago Como. Quando lá cheguei, ele foi simpático, pediu-me o guião e pura e simplesmente desapareceu durante um bom par de horas. Quando finalmente regressou, disse que tinha gostado e que aceitava fazer o filme.
Assim, sem mais?…
Sem mais. Aliás, ele foi extremamente generoso com a sua personagem. Nunca tive de fazer qualquer reparo, nem ele teve qualquer hesitação.
O George foi a primeira escolha?
Foi a única escolha. Foi apenas nele em que pensei mal comecei a escrever o guião.
Não tinha nenhum plano B?
Não. Bom, se ele não quisesse talvez pudesse chamar, sei lá, o Elijah Wood…
(Risos) Li algures que é também um grande fã desportivo. Por exemplo, está a ver-se fazer um filme sobre desporto?
Talvez. Adoro hóquei e adoro basquetebol e basebol. Mas se fizesse um filme sobre desporto, provavelmente falaria das vidas dos jogadores. Gostava de abordar a ideia de como alguém vive um menos de terço da sua vida em glória e outros dois terços a tentar compreender o porquê. Mas não sei se faria um filme sobre desporto.
Falando de sucesso prematuro, como encarou o estatuto de culto gerado por “Juno”?
Foi assim: mal acabei o filme percebi que o filme seguinte só poderia ser um falhanço… É curioso porque eu costumava fazer atletismo e antes de uma prova ficava sempre muito nervoso, até ao tiro de partida. Mas logo que começava a correr tudo isso me passava. É o mesmo que sucede com a realização. “Juno” foi um fenómeno, até pelas receitas que gerou, mas também pela banda sonora e os prémios. Dai pensar que só poderia baixar a fasquia. Entretanto começo a escrever e tudo começa gradualmente a tomar forma. Por isso aqui estamos.
Aprendeu alguns truques com o seu pai (o realizador Ivan Reitman)?
Claro. Ele é o meu herói. Ensinou-me imenso.
Qual terá sido a maior lição que lhe deu?
A maior lição terá sido quando me disse. “enquanto realizador, o teu barómetro para a comédia nunca deverá ser superior ao teu barómetro para a verdade; por isso, quando estiveres no set, nunca peças para fazer algo divertido, mas sim algo honesto. Quando estiveres a observar os actores, tens de sentir que isso é real. Isso irá definir o resto do teu filme”.
Posso perguntar-lhe se sempre seguiu os conselhos dele? 
(risos) Acho que sempre os segui.
E com que idade viu “Os Caça-Fantasmas”?
Vi o filme quando estreou, claro. Tinha seis anos.
Desta vez, o seu pai participa também como produtor neste filme. É a primeira vez que colaboram de uma forma tão próxima?
Bom, a verdade é que eu lhe mostro tudo o que faço desde os tempos em que lhe mostrava os trabalhos de casa. Não é que lhe tenha escondido os meus filmes, mas sempre quis fazer a minha própria carreira como realizador e ser independente. Por isso, fico muito orgulhoso por ter o nome dela ao lado do meu neste filme.
Porque levou tanto tempo – foram seis anos? – a escrever este filme?
É que sou um escritor lento… (risos) Eu comecei a escrever este guião porque na altura ninguém queria fazer “Obrigado Por Fumar”. Entretanto, “Juno” apareceu na minha vida. Era um guião tão bem trabalhado que eu percebi que se não fizesse esse filme, arrepender-me-ia para o resto da minha vida. Foi então que regressei ao guião e finalmente o terminei.
Neste momento, está já a trabalhar em algum guião?
Sim, estou a adaptar um livro da Joyce Maynard e a colaborar com a Jenny Lumet (“Rachel Getting Married”) num outro guião.
E do que trata o guião de Jenny?
É sobre relações inter-raciais em, Nova Iorque.
E irá realizar esse filme?
Espero que sim.
Pensou alguma vez num final diferente para o filme?
Este foi sempre o final. Este filme não necessita de um final feliz. Acho que um final feliz seria uma solução fácil e acho que diria menos do que este diz. Vamos lá ver: eu queria fazer um filme onde o protagonista, mas também o público, se apercebesse da ideia de comunidade e do companheirismo, mas tudo isso através da perda. Há muitos filmes que nos fazer ficar apaixonados porque é isso que vemos no ecrã. Mas eu queria fazer um filme nos fizesse sentir a vontade de comunicar com os outros porque sentimos no filme a dor de estar só. E queria que as personagens sentissem isso também. Por isso, levei-os numa viagem – foi quase um truque – usando elementos de comédia e de romance, mas para depois os sentir magoados. Porque é só quando sentimos essa dor que desejamos alcançar os outros. Por isso é que o filme termina nas nuvens, num momento de reflexão. Não é importante para onde o George vai. Ele já teve a sua epifania. Irá encontrar alguém que ame ou continuará o resto da sua vida. Mas as nuvens serão um momento de reflexão para todos nós sentirmos o que queremos levar na nossa pequena mala de viagem, saber o que queremos da nossa vida.
Vê o filme como um acordar para a vida?
(risos) É interessante, não tinha pensado nele assim. Mas quem sabe, talvez. Veja bem, o que eu quero é que os meus filmes funcionem como espelhos. Espero que cada um de nós se reveja. Eu não quero mudar as pessoas. Aliás, ficaria infeliz se o fizesse. Acho que muitos realizadores trabalham como se soubessem as respostas. Eu tenho apenas 32 anos, mas já percebi que a vida é bastante complicada e que não existem respostas. É essa a verdade. O que quis foi tentar compreender um ser humano complicado e tomar um momento para pensar como isso se reflecte na vossa própria vida.
No filme, a personagem do George fala muito nos objectos essenciais que transportaria numa malinha de viagem ou numa mochila. Pergunta: o que transportaria o Jason na sua mochila?
Na minha mochila? A minha mochila está a minha mulher, a minha filha, o nosso cão, e todos os filmes que ainda não pude ver. E são muitos filmes.
Sente que a sua vida mudou desde que nasceu a sua filha?
Percebi agora um sentido para as coisas que não supunha existir antes de ser pai. Percebi também o que era o medo verdadeiro. Eu achava que sabia o que era ter medo, mas enganei-me. Só depois de a ter é que percebi. Só quando percebemos que somos responsáveis por um outro ser humano é que nos apercebemos. Nós nunca somos responsáveis pela nossa mulher. Mas somos responsáveis pelos nossos filhos. Isso dá-me um enorme orgulho, mas também me aterroriza.
Essa sensação alterou de alguma forma a sua maneira de ver o mundo e até mesmo o seu trabalho?
Acho que experimentei mais vida. Isso só me complicou, mas espero ter muito tempo para superar isso.
Considera mais fácil realizar uma história que também escreveu, ou mais difícil?
O que acontece é que quando estou a realizar algo com diálogos meus, estou mais à vontade para os alterar. Por exemplo, no guião da Diablo (Cody, autora de Juno), não permitiria que ninguém alterasse uma palavra. É quando filmamos os diálogos de outra pessoa é quase como se carregássemos o seu filho ao colo.
Onde é que vai buscar as personagens que escreve?
Alimento-me de mim próprio. A personagem do George foi inspirada em mim. E a Natalie é muito parecida coma minha mulher. Durante a minha vida fui-me apaixonando por diversas mulheres brilhantes, sendo que a minha mulher foi a última. Tanto a Alex como a Natalie foram explorações de mulheres que foram sempre demasiado inteligentes para o meio em que estavam. No fundo, o problema ou a desvantagem de ser uma mulher esperta.
E quais são então as suas semelhanças com a personagem do Clooney?
Eu gosto de estar só. E gosto de voar. Quando voamos é como se descolássemos de nós próprios e da nossa vida.
No entanto, agora tem uma família. Não pode descolar assim tanto…
Esse é a parte mais interessante. Eu tenho uma vida bastante completa. Tenho uma bela mulher, uma filha, uma casa óptima, faço o que quero e trabalho com imensa paixão. No entanto, continuo a vaguear por aeroportos e a olhar os destinos imaginando como seria acordar em Tulsa, só e sem nada. O que isso significa para mim, é que todos nós ponderamos a possibilidade de estarmos sós, de deixar tudo. Eu tive a curiosidade de descobrir o porquê.
Diga lá, qual é então o número de milhas no seu cartão de passageiro frequente?…
Hummm… Isso é uma pergunta pessoal! (risos) Digamos que voo mais de 100 mil milhas por ano. Voo mesmo muito. Tenho o cartão mais elevado da minha companhia. E não sei porquê continuo obcecado por acumular milhas… É absurdo, eu sei… Por isso, voltando à semelhança com a personagem do George, eu sei o que ele é, porque eu passei por isso.
E o que faz com as milhas?
As milhas são o próprio objectivo! (risos) Não sei, as vezes compro viagens aos meus pais para me visitarem. Mas o importante não é o que se fazem com as milhas. Porque é que as pessoas coleccionam selos? Não sei. Enchemos a vida com porcarias. É para isso que serve a mochila…Queremos que as nossas vidas sejam completas e plenas, mas não conseguimos enchê-las com coisas sentido.
A Anna (Kendrick) é uma revelação! O que descobriu nela que o levou a querê-la no seu filme?
Eu vi-a no filme “Rocket Science” e achei que era uma revelação. Era uma voz completamente original na sua geração. E uma actriz excepcional. O meu único medo é que ele poderia não conseguir mostrar o mesmo sentimento num outro filme. Mas ela veio e arrasou na sua audição. Para mim, a Anna é como a Ellen Page; é uma voz dentro dela própria.
Ele conhece toda a América, mas afinal não conhece nada O que vê é a América do alto. Conhece os aeroportos.
Falar de Óscares para este filme não parece ser um tiro no escuro… Acho mesmo possível: para si, o George, guião, o George…
Estamos em Outubro, ainda falta tanto tempo… Mas, sim, seria bom.
Ficaria surpreendido ao ver nomeações aos Óscares para as prestações de George e Anna, mas também para si e, já agora, para o filme?
Não sei. Ainda estou em choque por ter sido nomeado por “Juno”, por isso já não sei o que pensar. O que estou é muito orgulhoso do trabalho deles. Eles merecem-no. Não só o George tem uma enorme prestação, como também faz uma coisa que muitos actores teria pudor em fazer, que era uma análise interior. Seja algo absolutamente pessoal ou uma persona, o que ele fez foi agarrar nessa ideia e desconstruí-la no filme. E fê-lo de uma forma inequívoca e destemida. Acho que é a prestação da vida dele.
E a Anna?
A Anna é espectacular e mudou o filme. Ela é electrizante. Ela teve um papel muito complicado para a idade dela. Até porque não há nenhum papel na idade dela que não implique apaixonar-se. E ela abraçou uma personagem que não é o estereótipo da beleza, mas adorável. Não conheço nenhuma outra que fizesse melhor esse papel.
Mas arrisca-se a ver reconhecido o seu guião e a sua realização…
Sim, eu sou um génio e um dos maiores realizadores de todos os tempos, mas (risos) não vou falar disso… E temos que acabar, é isso? (reage ao aviso da publicista de que acabou o tempo) Então vou-me embora com esta nota. Perfeito! (risos) Bom, muito obrigado.