Jim Jarmusch regressou ao um tipo de cinema mais contido, mais alinhado com as suas primeiras obras, naquele que será criou o exemplo mais acabado de um filme-poema. Expliquemo-nos. Paterson abre com as primeiras estrofes de um poema de William Carlos Williams, que fala de poesia e da vida. E assim conhecemos Paterson (Adam Driver), que vive com a sua meticulosa mulher Laura (Golshifteh Farahani).
A sua vida está organizada de forma a que vivam com pouco. Enquanto Paterson é o ‘Driver’ (a escolha de Adam não terá sido casual) que faz o giro de motorista de autocarro pela cidade de Paterson, Laura faz cupcakes em casa que venderá. Quando regressa, Paterson vai passear o seu cão Marvin e aproveita para passar pelo bar local para beber um copo e dar duas de conversa com os amigos. A sua vida é agradável e sem surpresas.
Assim é também o cinema de Jarmusch, conciso, contido, como os poemas de Paterson. No fundo, como as formas circulares das cortinas pretas e brancas de Laura, e dos seus bolos também com essa forma e tons. Quando Peterson interpela uma garota que escreve um poema, percebemos que essa narrativa já começara antes e está a cumprir-se nesse momento no acerto do guião e na contenção de tudo.
Por fim, Paterson, que vive em Paterson até encontra um estranho oriental que lhe oferece um livro, onde irá nascer a história de Paterson. É então esta circularidade que nos cativa, bem como a simplicidade de um anagrama. Ou a verdade contida num moderno poema haiku. Por isso, Paterson, não é um filme. É um maravilhoso poema.
“I started to make trips to the area. I walked around the streets; I went on Sundays in summer when the people were using the park, and I listened to their conversation as much as I could. I saw whatever they did, and made it part of the poem.”
Paterson foi um dos melhores filmes em Cannes este ano, injustamente esquecido por um júri acéfalo.