Música a Música não é um filme sobre música, ela fica apenas no background como se tratasse de uma miragem decorativa. Desta vez, Malick escolhe o SXSW, o famoso festival de música em Austin, no Texas, para nos passear ao lado de algumas personalidades do meio, como Patti Smith, Red Hot Chilli Peppers e Iggy Pop. De tal maneira que quase ficamos com água na boca por um momento musical. Mas este é um filme sobre paixões, desilusões, sonhos e a forma como reagimos a uma vida atribulada.
Uma vez mais, Malick serve-se de um grupo e atores notáveis para uma ruminação existencialista. Rooney Mara é Faye, dividida entre o amor de BV (Ryan Gosling), um cantor que se esforça para crescer no meio, e o seu desejo físico e sonho de uma carreira musical com Cook (Michael Fassbender) um conhecido produtor no meio.
O filme é como um puzzle que se vai construindo à nossa frente. Saltos (não de música para música), mas do passado para o presente e vice-versa, muitas vezes sem alguma relação plausível. Nem as imagens belíssimas capturadas por Emmanuel Lubezki conseguem salvar o filme de se perder. Não há início, nem fim. Mas talvez seja esse o objetivo de Terrence Malick – a recriação de um mero acontecimento na vida de cada um.
Volátil, apressado, apaixonante, mas ainda assim efémero. Só que essa rapidez de momentos e sentimentos leva o filme a perder a sua essência. Não nos leva a lado nenhum. Não há conversas interessantes, não aprendemos nada nem nada nos cativa. Corpos seminus que chocam uns com os outros, mãos que passam suavemente pelo corpo, a sexualização sem darmos de cara com tudo à vista.
Temos também o regresso de Natalie Portman, agora como empregada de café, mas que pouco ou nada acrescenta ao filme, a não ser para observarmos a sexualização de Cook, ou uma nova mulher (Cate Blanchett) como um novo interesse amoroso de BV.
Assim como em Knight of Cups há uma grande amor, e uma felicidade que nos persegue ao longo do filme, mas acabamos por sentir que a verdadeira substância da paixão não está presente. Como se Malick estivesse também ele perdido numa corrente irregular de pensamentos entre o que quer mostrar e aquilo que acabamos por ver.
Para o que Malick já concretizou e daquilo que sabemos ser capaz, sem dúvida que isto soa a um tiro ao lado. Song to Song, Música a Música, mas o disco parece riscado…