Sexta-feira, Dezembro 6, 2024
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Okja: o porquinho da Netflix que alterou as regras do jogo

Foi um dos eventos de Cannes este ano. Desde logo ao motivado alguma polémica por se tratar de um filme na Selecção Oficial que não teria uma exibição nas salas como os outros filmes e seria explorado pela cadeia de streaming Netflix. Seja como for, nas primeiras opiniões publicadas online percebemos como muitos se renderam-se ao lado mais patusco deste porquinho avantajado cuja fisionomia foi inspirada numa cadela de Tilda Swinton, a Lucy (como relatamos na nossa entrevista).

Na verdade, em Okja ficamos com a sensação de que as opções estéticas e narrativas deste produto são até mais calhadas ao entretenimento familiar, já que a narrativa e a ação parece ter sido desenhada para um público juvenil. Ainda que o próprio realizador nos tenha confessado que o projeto e os desenhos de Okja estavam já criados antes do apoio da Netflix. Apesar de tudo, parece inquestionável o brilhantismo visual num magnífico 4K e a estética na tela fruída com gosto pelos jornalistas que esgotaram a sala de projeção no festival de Cannes. Por aí, nada a dizer, até porque o resultado do filme será sempre bem melhor se visto numa sala de cinema.

Inquestionável é o charme bucólico da criatura nas montanhas da Coreia e a sua relação afetiva com a sua dona Mija (eficaz e segura Seo Hyun Ahn), mesmo depois da sua vinda para Nova Iorque, num momento que nos recordou a deriva semelhante da criatura no clássico King Kong.

Desde cedo, fica claro que esta aventura tem perfume de entretenimento familiar, quiçá até pouco ajustado a uma secção competitiva para a Palma de Ouro. A própria Tilda Swinton está longe da habitual força a que nos habituou, aqui no papel garrido da dona da companhia que produziu estas criaturinhas, e aproxima-se mais do papel da gémea que replicou em Salve César, dos manos Cohen. O filme é de resto da mocinha coreana Seo Hyun Ahn e, claro, do porco digital avantajado que segura todas as cenas em que entra. Nem Jake Gyllanhaal escapa, pois cede aqui à criação de um um apresentador clown direcionado para crianças.

Bong Joon Ho é um cineasta formidável e um homem de Cannes. E tem em Host – A Criatura, de 2006, talvez o exemplo mais próximo de Okja, se bem que o mais recente e fulgurante Snowpiercer – Expresso do Amanhã, deixou também a suas marcas, sem esquecer o igualmente perturbador Mother – Uma Força Única (2009). O coreano deixou-se tentar agora por uma proposta de entretenimento mais light, servido por uma narrativa não muito invulgar que lida com a produção alimentar usando a manipulação genética como panaceia de um negócio chorudo.

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