Terça-feira, Dezembro 10, 2024
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MDOC: Drama ambiental e social Mighty Afrin vence 9ª edição

Astrakan 79, de Catarina Mourão, foi o melhor filme português

É em Melgaço, no topo norte de Portugal que, ano após ano, se vai impondo um festival de cinema implicado na abertura a diferentes caminhos do cinema do real. Desde logo, quebrando fronteiras e promovendo um debate muito próximo e caloroso entre criadores e participantes nas diversas iniciativas promovidas pelo festival MDOC, confirmando desta forma o trabalho notável levado a cargo pela associação AO NORTE, presidida por Carlos Viana.

No final de uma semana intensa, fértil de contactos e experiências, foram conhecidos os vencedores da 9ª edição do MDOC – Melgaço International Documentary Film Festival, pela decisão dos prémios Jean-Loup Passek a cargo do júri constituído pela documentarista checa Andrea Slováková, o cineasta e produtor de origem iraquiana Maythem Ridha, a diretora artística colombiana Maria Luna-Rassa, o programador e docente português Paulo Cunha e o editor de imagem brasileiro Waldir Xavier.

Os grandes vencedores foram então Mighty Afrin: In the Time of Flood, do grego Angelos Rallis, bem como Astrakan 79, da portuguesa Catarina Mourão, e ainda Taxibol, do italiano Tommaso Santambrogio. Ainda uma menção honrosa atribuída a Budapest Silo, da húngara Zsófia Paczolay, tal como o prémio do melhor cartaz de cinema, para Entre Ilhas, da espanhola Amaya Sumpsi, com autoria de Júlia Garcia.

No que diz respeito aos prémios Don Quixote, a decisão coube ao júri da FICC – Federação Internacional de Cineclubes, a cargo do cineasta norueguês Kjetil Ursin Almás, o docente, argumentista e produtor açoriano Manuel Bernardo Cabral e ainda o programador e autor polaco Waldemar Wilk. Os premiados foram Silent House, dos irmãos iranianos Farnaz Jurabichan e Mohammadreza Jurabichan, além de Will You Look at Me, do cineasta chinês Shuli Huang.

Para lá da identidade, memória e fronteira

Olhados no seu conjunto, poderemos fizer que este palmarés reflete precisamente a dinâmica em redor das questões de identidade, memória e fronteira, afinal de contas o DNA do festival. Pois é aí que assenta a profundidade do dilema da órfã Afrin, o filme vencedor do grande de prémio, motivado pela urgência em escapar a um casamento imposto e indesejado, bem como a forma de evitar a tragédia ambiental das enchentes na cidade de Dhaka, no Bangladesh. Talvez a única salvação fosse mesmo a procura do pai que nunca conheceu, no que poderá até ser encarado como a alegoria de um destino certamente partilhado por outros.

Astrakan 79, de Catarina Mourão (Melhor Documentário Português)

De alguma forma, Astrakan 79, vencedor do prémio de realização no último IndieLisboa, sugere um percurso inverso do destino do adolescente português Martim, que, aos 15 anos, é enviado pelos pais, em pleno fervor de militância comunista, para estudar na cidade Astrakan, no sudoeste da Rússia. A cineasta Catarina Mourão, com experiência confirmada nos limites do cinema do real, bem como nas nuances da ficção, parte dessa premissa, assente em material bastante escasso, para recriar essa aventura assente numa comunicação à distância, que anos mais tarde favorece um pungente encontro entre o Martim pai e o Martim filho.

Num apontamento diverso, embora numa intrincada encruzilhada de fronteiras, o filme Taxibol, do italiano Tommaso Santambrogio, inicia em Cuba uma reflexão sobre os fantasmas e os traumas do passado político nas Filipinas, favorecido, de resto, pela conversa entre o famoso realizador filipino Lav Diaz durante as conversas com um condutor cubano numa viagem de taxi. Será, uma vez mais, a partir de um frutuoso diálogo entre a ficção e o documento que emerge uma nova poderosa proposta de cinema.

Merece igualmente destaque, dentro da mesma linha da diversidade estética, o olhar de Farnaz e do seu irmão, em Silent House, procurando no arquivo de memórias da sua casa de família. Este um espaço que liga a vida de uma certa aristocracia de Teerão e os diversos ventos de revolução. Farnaz e o irmão exploram esse lado pessoal através das imagens, em diversos formatos, esboçando uma deslumbrante tapeçaria das diferentes matizes da complexa cultura e política iranianas.

De resto, a tremenda energia e vitalidade do novo cinema iraniano esteve presente de uma forma muito evidente neste edição do MDOC. Mesmo que arredado dos prémios, merece referência o filme tocante And, Towards Happy Alleys, curiosamente, realizado pela muito jovem e talentosa cineasta Sremoyee Singh. Trata-se de um filme tese, de forte valor poético, em que a sua paixão pelo cinema iraniano se funde com o testemunho ativista das mulheres iranianas. Referência ainda a Dream’s Gate, assinado por Negin Ahmadi, incorporando a sua câmara no seio da unidade de milícia iraniana curda YJP, apenas composta por mulheres.

De referir alguns dos eventos principais do festival. Desde logo, o curso de verão Fora de Campo, coordenado por José da Silva Ribeiro, Alfonso Palazón Meseguer e Manoela dos Anjos Afonso, subordinado ao tema Cinema Autobiográfico/Autobiografias no Cinema. Bem como o Plano Frontal, orientado por Pedro Sena Nunes, uma residência com a produção de documentários e projetos fotográficos sobre o território. Por fim, mas não em último, decorreu o X-RAYDOC, com coordenação de Jorge Campos, com uma conversa/debate sobre o tema Candid Eye, comentado por Luís Mendonça, a partir de filmes de Wolf Koenig e Roman Kroitor.

Palmarés MDOC

Festival Internacional de Documentário de Melgaço

 

PRÉMIOs JEAN LOUP PASSEK 2023

Melhor Longa Metragem Internacional
MIGHTY AFRIN: IN THE TIME OF FLOOD
Realizador/Director: Angelos Rallis

Melhor Curta ou Média metragem Internacional
TAXIBOL
Director: Tommaso Santambrogio

Menção Honrosa
BUDAPEST SILO
Realizadora/ Director: Zsófia Paczolay

Melhor Documentário Português
ASTRAKAN 79
Realizadora/ Director: Catarina Mourão

Melhor Cartaz de Cinema
ENTRE ILHAS
Designer: Júlia Garcia

PRÉMIOs DON QUIXOTE 2023

Silent House (Farnaz Jurabchian, Mohammadreza Jurabchian)

Melhor Longa Metragem
SILENT HOUSE
Realizadores/ Directors: Farnaz Jurabchian, Mohammadreza Jurabchian

Melhor Curta ou Média Metragem
WILL YOU LOOK AT ME
Realizador/ Director:Shuli Huang

 

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