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Não há volta a dar, “La La Land-Melodia de Amor” promete ser o “crowd pleaser” da saison. E, sim, a nomeação aos Óscares está mais do que assegurada. De resto, estreia americana, limitada, está reservada para o final de dezembro e, para o dia 13 de janeiro, em Portugal, certamente a capitalizar desse reconhecimento.
Mas será que se trata mesmo de uma obra-prima, de um digno sucessor dos clássicos da era dourada dos musicais de Hollywood? Infelizmente, estamos bem longe disso. Aliás, “La La Land” nem sequer nega essa aproximação à herança da Meca de Sonhos, apesar de resultar num mero ensaio decorativo e pouco inspirado por parte do par romântico Ryan Gosling e Emma Stone. Eles até dão o seu melhor, mas não se lhes pode pedir demasiado já que não são bailarinos, cantores ou sequer músicos. Isto apesar de Gosling ter treino suficiente para dar um pezinho de dança e até tocar piano. Já a cantar temos dúvidas. Injusto mesmo seria até mencionar os nomes de Fred Astaire ou Gene Kelly, ou Ginger Rogers, Cyd Charisse e Rita Hayworth, entre tantas outras. Isto apesar do desejo, pouco velado, do filme ser evocar precisamente essa colagem.
Foi, portanto, com algum desalento que saímos da sala do Curzon Mayfair, num dos bairros mais chiques de Londres, na nossa derradeira sessão do festival de cinema local (decorreu de 5 a 16 de outubro). É que em vez da tal apoteose, prometida já por tantas estrelinhas garantidas pela crítica internacional, esta derivação da fábrica de sonhos artificial – o tal ‘la la land’ – resulta num apenas num filmezinho simpático, que se limita a reciclar a narrativa típica do género. Só que a aparência resulta mais num pedaço de memorabillia cinematográfica, sublinhada pelos posters de clássicos que abundam no filme, mas que mais se parece com os biblots vintage que se vendem nas lojas de souvenirs em Hollywood Boulevard, onde os transeuntes identificam os nomes no walk of fame e tiram fotos com os lookalikes que por ali vegetam. É pena Damien Chazelle se deixe tentar por esta singela representação, ele que tão boa conta dera de si no arrebatador “Whiplash – Nos Limites”. Isto a menos que tenhamos visto um filme diverso.
A história conta-se em duas penadas. O destino de um pianista de jazz (Gosling) empenhado em abrir um clube para recuperar a identidade de um género musical moribundo, mas forçado a tocar em casamentos ou depois numa banda muito ‘free’, cruza-se com o de uma atriz ‘wannabe’ cujo talento parece ser irremediavelmente ignorado em audições azaradas. O mote fica dado pela exuberante sequência inicial com um engarrafamento numa das artérias de LA que se converte por alguns minutos num corpo vivo, prolongado depois em outros números musicais que piscam o olho aos inevitáveis “Serenata à Chuva”, de Stanley Donen, que reflete precisamente o mesmo meio cinematográfico, “Um Americano em Paris” ou tantos outros de Vincente Minnelli, o cineasta que mais aperfeiçoou o musical como género cinematográfico. Pena então que esta ânsia de fundar o filme numa base clássica, em que parece que tem de chamar as coisas pelo nome, não se coíba sequer de piscar o olho ao James Dean de “A Fúria de Viver”, mas apenas para poder replicar uma cena no Observatório e beneficiar da paisagem sobre Hollywood.
Depois de abrir o festival de Veneza e de abrir também a sessão de gala inaugural em Londres, fica claro que “La La Land” é precisamente isso, uma boa fita para abrir um festival de cinema. Com o tal recorte de filme vistoso e bem-disposto, mas sem preocupações de ser grande cinema. De resto, a premissa de “La La Land” é mesmo essa. Ou seja, é um filme que cintila. Mas está longe de deslumbrar.