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Quem diria que seria Isabelle Huppert a ajudar o realizador holandês a reinventar-se depois do menos conseguido período americano? Até porque, bem vistas as coisas, o imenso à vontade da francesa combina muito bem com tudo aquilo com que havíamos apreciado em Verhoeven. E se dúvidas houvessem puderem mesmo ser revistas na recente retrospectiva da sua obra no IndieLisboa. Seria, de resto, pouco depois que Elle se confirmaria como um dos grandes eventos da seleção competitivo para a Palma de Ouro.
A premissa fica exposta desde o início com a brutal cena de violação em que Huppert fica exposta, sobretudo quando opta por não denunciar a queixa, mas sobretudo quando passa a desenvolver um ambíguo sentimento com o seu agressor. E sobretudo quando parte de uma qualquer espécie de vingança acaba por ser afinal de contas satisfeita pela personagem e videojogo em que ela própria se afirma, como uma espécie de amazonas. Um espaço que permite a Verhoeven reencontrar-se e injectar parte de uma perversidade e ousadia que não vamos desde Instinto Fatal ou Showgirls, mas que reconhecemos da sua obra anterior. Afinal de contas, um thriller de sibilino suspense, trabalhado e trilhado como se ambos se conhecessem há muito. Bem feito.