Quinta-feira, Dezembro 5, 2024
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La La Land – Melodia de Amor: vamos lá ao cinema ver estereótipos!

Classificação: **

À saída da projecção de imprensa de La La Land, um colega jornalista procurava apurar a razão do meu ar desagradado. Afinal de contas já estava a rever este muito badalado musical de Damien Chazelle, depois de uma experiência inicial no festival de Londres em outubro passado. Então não gostaste de ver o cartaz do filme da Ingrid Bergman?, não gostaste de ver aquela cena do Fúria de Viver? Não gostaste da nostalgia!? Não, porque para esta homenagem em ritmo de ‘nasceu uma estrela’ numa tal Meca do cinema a transpirar memorabilia e piscadelas de olhos basta-nos ir a uma das milhentas lojas ao longo do Hollywood Boulevard, fazer selfies com um qualquer lokalike ou levar para casa uma reprodução do Óscar. Embora para Chazelle e os seus produtores estejam reservadas os real ones, para o preanunciado Melhor Filme e Realizador e as técnicas da praxe. Ainda que não, se deus quiser, para Ryan Gosling e Emma Stone. I hope not.

Ora, é precisamente essa vontade de agradar à força, com o menino amante de jazz e a menina que quer ser atriz, que se força a piscadela de olho e se esvai o interesse de La la Land, numa espécie de viagem nostálgica de carrossel ao passado do cinema, tipo theme park, em que revemos os conceitos do musical made in Hollywood. So what?

Isto porque ‘o filme do ano’ é servido como um pastiche do be-a-ba temático dos musicais, desde Minnelli a Donen ou Demy, passando por West Side Story e até Grease. Ainda assim tudo alinhavado com uma eficaz mise en scène de Damienisso temos de admitir, ainda que sequinho de emoção, pelo menos sem o tom emocional que sempre foi pedra de toque dos musicais clássicos capaz de nos produzir uma lagrimita discreta de comoção piegas. Ao menos o ‘puto’ Chazelle, do alto dos seus 31 aninhos, consegue confirmar a atitude espevitada e o gosto musical que tão boas credenciais deixara no explosivo Whiplash – Nos Limites, ainda que esse filme de 2014 fosse apenas a expansão da curta com o mesmo nome do ano anterior e que continha a coluna vertebral do filme.

Para além dessa doença nostálgica sem causa, um outro problema nos aflige: é que nem Ryan Gosling nem Emma Stone têm uma interpretação por aí além, nem são, sequer, grandes atores. Gosling passeia o seu ar de menino bonito e faz o que pode, e nem se sai mal, como pianista Seb a tocar e dançar, ainda que despojando de carisma o arquétipo de jazzman a querer singrar no meio musical, e que acaba por se render ao easylistening, tal como Emma Stone a personificar todos os papéis de ‘nasceu uma estrela’. Não, eles não são sequer Jimmy Dean e Natalie Wood, no clássico A Fúria de Viver, de Nick Ray, mesmo que essa cena do observatório Griffith seja replicada sem vergonha. Ainda assim, talvez a piscadela mais interessante de La La seja mesmo quando Mia (Emma) enverga o blusão vermelho na sua audição, parecido com aquele que Dean usa no filme e empresta a Sal Mineo antes da comovente cena final de Rebel.

Vejamos, mal nenhum vem ao mundo por se recriar este ambiente de tempos idos. Talvez, se a tal vontade de reciclar não fosse tão evidente, como se nos segredasse, estás a perceber? Para melhor compor o ramalhete, divide-se ainda o filme nos quatro atos das estações do ano, como que a climatizar uma temperatura artificial. Sejamos claros, desde que par do ano nos é apresentado na energética sequência musical, no meio de um engarrafamento numa das principais artérias de LA, embora reciclado segundo tudo aquilo que já vimos, percebemos que daí em diante nada nos surpreenderá. Nem emocionará. Tanto ele como ela guardam as memórias que servem de justificação para a sua devoção, seja um banquinho especial que suportou um dos grandes jazzman, ou os cartazes dos filmes clássicos no quarto dela. Ou seja, brinda-se ao estereótipo.

Já muito se escreveu sobre La La Land, e invariavelmente a massa crítica parece ter ficado presa nas malhas dos graus superlativos. Como o crítico da The New Yorker que não se conteve e até escreveu que se sentiu indeciso, não sabendo se haveria de ver o filme ou lambê-lo… Sim, os americanos sempre foram calhados a este tipo de consensos. Mesmo quando nos pareça que o Rei desta caravana vai nu, cantando la la la…

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