Com fortes traços “Bressianos”, Alain Guiraudie continua a sua jornada pela inaturalidade (a maneira como as personagens falam, actuam e reagem, bem como as situações que acontecem), da mesma forma que vincula com a natureza quase animalesca das imagens. Esse factor natural continua presente na sua obra, a água como elemento de fuga, o bosque como retiro espiritual e emocional e a “besta” como um crescente incógnito.
Para o realizador, este Na Vertical é uma alusão ao conto de fadas, aos cavaleiros andantes e a suas intermináveis cruzadas, neste caso um jovem cineasta, Leo (Damian Bonnard), que procura lobos no Sul da França, deixando-se seduzir por uma pastora de espírito livre, Marie (India Hair). Nove meses depois, nasce uma criança, fruto dessa relação, mas em consequência de uma depressão pós-parto, Leo torna-se unicamente responsável pelo seu filho. Aprendendo a ser um pai “à força”, o nosso protagonista terá que lidar com todas as adversidades que lhe surgem no caminho no intuito de proteger o seu “rebento”, porém, existem fantasias internas que teimam em não desaparecer.
São fantasias, essas, que atribuem à fita o seu “quê” de onírico, aquela aceitação com o primitivismo natural e a fusão desta com a real narrativa tornam este Rester Vertical num tremendo trabalho “exquisite”, de rara beleza. Mas Guiraudie tem falhas, e muitas, neste retrato de estranheza e de visuais explícitos. O enredo é desfeito pela divagação nesse mesmo “mundo” e a inverosimilhança, aqui indiciada, contrai um humor “involuntário”, demasiado negro, sabendo que não são esses os propósitos de um filme assumidamente poético.
Entre o enxugamento sexual e a ousadia do politicamente incorrecto, Na Vertical adquire grandeza na sua sequência final, que comprova as compaixões entre “bestas” e a não divergência entre eles e nós. O nosso mundo é animalesco e Guiraudie sabe perfeitamente disso, só é pena que não consiga transmitir essa referida selvajaria sem o requerimento da provocação fácil. Infelizmente, não é outro O Desconhecido do Lago.