Uncut Gems, em que a tradução portuguesa Diamante Bruto opta pela variante mais óbvia e calhada para título, é o que se pode designar por um filme completamente ligado à corrente. Pelo menos, à energia eletrizante que os manos Josh e Ben Safdie gerem como poucos. Pelo menos, na memória está confirmada ainda a tensão deixada no anterior Good Time, em competição de Cannes em 2017.
Adam Sandler tem aqui o registo mais conseguido da sua carreira – superando mesmo o Barry de Punch Drunk Love, de Paul Thomas Anderson -, debitando uma energia contagiante que domina o filme deste o início, ainda que a sucessão de maravilhosos secundários seja igualmente de altíssimo gabarito, com particular destaque para o jogador da NBA Kevin Garnett num papel insólito.
Resgatado à constante personagem de adulto imaturo reciclada em cada nova comédia romântica, Sandler entrega-se de corpo e alma à personagem de Howard Ratner, este judeu novaiorquino atolado de dividas mas confiante na sua estrela. Ambientado no Diamond District de NY, ele é o verdadeiro diamante bruto do filme. Até porque, diga-se, a verdadeira joia a que o filme alude é uma opala colorida, supostamente a pedra que nos permite ver o além. É precisamente essa pedra preciosa, essa opala, comprada via online a um mineiro etíope, que empurra este grupo de personagens a uma roda livre apenas esboçada por uma frágil sugestão de guião que seguimos dominados por esta ação incontornável e sublinhada por um ambiente sonoro e seguida por um complexo jogo de câmara.
A opala é o macguffin, o turbilhão, a tontura provocada pelas cores surreais que faz andar a ação, ainda que sem um significado que ultrapasse o efeito em que irremediavelmente nos perdemos. Encontramo-nos depois, no outro lado, mais com uma enorme satisfação de cinema. Um pouco como uma viagem dantesca carregada de figuras. Só é pena que, uma vez mais, um produto totalmente calhado para o cinema, seja remetido para o ecrã de TV pela Netflix. É a vida.