Sábado, Abril 27, 2024
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Jorge Jácome: “Este é um filme que quer fazer parte de uma união”

Aí está Super Natural, um filme para lá do multiverso e das modas. Ainda em Berlim (na véspera das boas notícias e do seu primo FIPRESCI, explorando as diferentes dimensões do real), falamos com Jorge Jácome, procurando decifrar algo que é claro como água. “É como se fosse a própria tela de cinema a tentar comunicar com o espetador”, como refere o cineasta. “Isto para os espetadores, humanos, que estão na sala a consigam perceber, consigam entender o que ela está a tentar comunicar.”

O importante perceber é que todo este conceito foi concebido entre o Jorge Jácome, o André Teodósio e o José Maria Vieira Mendes, num misto de brainstorming, e mútuo desafio, quase como um “cadáver esquisito”, em que propostas de escrita motivavam e desafiavam respostas para dar tessitura às imagens, uma vez que “todo o conceito mais estruturado do texto foi concebido durante a montagem”. Ou seja, com Jácome na mesa de montagem e o André Teodósio e o José Maria Vieira Mendes, a escrever, “mas também a reescrever a reescrita. Sucessivamente íamos trocando as diferentes linguagens. Eles editando as minhas imagens e eu editando o texto deles. Foi um processo contante de reenquadramento e de re-imaginar o que o filme iria ser. “

Aspecto fundamental foi a ligação do Teatro Praga e o convite à Companhia madeirense Dançando com a Diferença, incluindo “profissionais com e sem deficiência, num trabalho já com mais de uma década e meia que frequentemente cruzam práticas artísticas com outros criadores, nacionais e internacionais.”

Super Natural (Ukbar Filmes)

Importante era questionar a ideia de cinema por detrás de tudo isto: mas se calhar para “perceber que não existe uma melhor maneira de se fazer cinema. Seja a filmar em qualquer suporte, seja ele em Super 8, 4K, com uma MiniDV, ou mesmo com o smartphone. Tudo é uma possibilidade para que uma ideia de cinema continue a existir. E perceber que cada câmara é também uma narrativa diferente.”

Super Natural é um filme de corpos. Todos os corpos. Físicos, animais, naturais, geológicos, cibernéticos… É o cinema que é convidado a captar essa presença. “E o filme está constantemente a falar de diferentes corpos. Por isso quando estamos a ver o filme também estamos a pensar como é o próprio corpo da imagem que estamos a ver.”

“Eu sou a história que começa quando todas as outras acabam”, pode ler-se no final. A ideia inquieta da boa maneira, pois não sabemos bem se esta intromissão de uma nova narrativa se refere ao próprio filme, por estar a querer contar uma nova narrativa, ou se se trata de uma proposta diferente para experienciar o filme.

“É esta multidimensão que o filme está constantemente a falar”, sugere o cineasta de 35 anos. “Ele está constantemente a querer ser uma nova coisa.” É um objeto vivo, que se metamorfoseia. Até porque quando aparece essa frase, como revela Jorge Jácome, “é como se essa natureza começasse a desaparecer e a construção humana aparecesse. Então existe um lado em que o humano transformou esta natureza virgem, neste caso, na ilha da Madeira, e que a própria ilha passa a ser uma outra coisa, como o filme passa ser também uma outra coisa.” Confuso? Nada disso. É apenas um apelo ao estado de espírito.

Como aquele maracujá que, inusitadamente, assume uma formam humana e se exprime. No fundo é isso, “um filme que quer fazer parte de uma união, como uma cor que deseja, que quer ser desejada; quer explodir, quer fazer parte. No fundo, o filme é isso: querer fazer parte de uma possível união entre as coisas. Seja entre o filme e o espetador, seja entre um humano e um lado mais da natureza.” É algo super natural.

Deixemo-nos então levar pela sua própria poesia das palavras deste ‘happening audiovisual’, mas fiquemos a pensar no seu peso.

Já me percebeste, tu és a minha história.

Porque não fizemos isto antes, não é?

Temos de deixar este mundo acabar.

Abraça-me uma última vez.

(Super Natural)

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