Terça-feira, Dezembro 10, 2024
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El Realismo Socialista captado por Raul Ruiz antes do golpe

Sim, o filme El Realismo Socialista, exibido na secção clássicos do festival de San Sebastian, é um registo que se prende, inevitavelmente, com esse fresco do cinema do real que é a trilogia de mais de três horas A Batalha do Chile, de Patricio Guzmán. Curiosamente, este é também um projeto com uma ligação muito forte a Portugal. Não só através da ligação que Ruiz teve com o produtor Paulo Branco – embora numa altura posterior -, mas sobretudo por ter sido alvo de um muito recente trabalho de digitalização a cargo da Cineric Portugal, um processo que tivemos até a ocasião de testemunhar.

Seja como for, o que importa é colocar El Realismo Socialista no seu devido contexto. E aí dizer que se trata de um projeto ambicioso, com cerca de 270 minutos (ou seja, mais do que quatro horas) e concebido como um misto entre documentário e ficção, encarando de uma forma livre os diferentes aspetos de um socialismo em construção. Por aí se acompanhava o percurso de um elemento de direita que se torna em ativista de esquerda, bem como um trabalhador socialista que se rende ao processo oposto.

Ruiz almejava assim comentar o debate em torno do percurso da Unidade Popular de Salvador Allende. Isto até que chegou o dia 11 de Setembro de 1973, com o ataque das forças de Augusto Pinochet ao Palácio de la Moneda e à consequente morte de Allende. Entretanto, o projeto ficou num limbo.

A versão que vimos então em San Sebastian é aquela que Valeria Sarmiento, a viúva e colaboradora de Ruiz, editou, mesmo com diversas alterações da ideia original, sendo, desde logo, a duração limitada a apenas 78 minutos, embora mantendo algumas interrogações, como a do desaparecimento (até hoje) do diretor de fotografia Jorge Muller (em novembro de 1974), ou um certo questionamento do idealismo e as suas diferentes conversões.

Em todo o caso, não deixa de ser um caso sério de ‘realismo socialista’ que importa refletir, particularmente numa altura de euforia de um certo recrudescimento da extrema direita e do populismo autocrático que ameaça assumir proporções até agora consideradas de exemplos a não repetir.

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